Título: Ciceroneado por FHC, Aécio molda candidatura
Autor: Duailibi, Julia ; Boghossian, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2013, Nacional, p. A6

Ex-membros da gestão de Fernando Henrique ajudam senador a formatar discurso econômico

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tornou-se o principal operador político da pré-campanha do senador Aécio Neves à Presidência da República pelo PSDB em 2014. Desde o segundo semestre de 2012, FHC, que lançou o senador candidato em dezembro, e Aécio cumprem juntos agenda de almo- ços e cafés com empresários e integrantes do mercado financei­ro no eixo Rio-São Paulo. Em al­guns encontros, aproveitaram para pedir ajuda financeira aos candidatos do PSDB na eleição municipal - o desempenho nas urnas era visto como determi­nante na montagem da candida­tura para o Planalto em 2014.

A ação de FHC em prol de Aé­cio começou a se formatar após uma conversa entre os dois no apartamento do ex-presidente, em São Paulo, no começo de 2012. No encontro, os dois traçaram os principais movimentos para cons­truir a candidatura não só no parti­do, mas em setores da sociedade.

Por meio da ação de FHC, Aé­cio passou a se encontrar com ex-integrantes da equipe econômi­ca do tucano para formatar um discurso econômico. Oficialmen­te, as reuniões são para discutir conjuntura nacional e internacio­nal e orientar o partido, num mo­mento em que o PSDB fala em rediscutir seu programa. Mas o pano de fundo é formatar o dis- " curso para a campanha de 2014.

No último dia 26, FHC e Aécio se reuniram pela manhã no apar­tamento do senador no Rio com Pedro Malan, ex-ministro da Fa­zenda, Armínio Fraga, ex-presi­dente do Banco Central, e Edmar Bacha, formulador do Plano Real. A agenda, que se estendeu até o almoço e contou, depois, com a presença do ex-jogador Ro­naldo, foi mais uma da série de encontros com os economistas.

Desde a campanha presiden­cial de 2002, FHC viu o PSDB esconder atos da sua gestão, sob a alegação de que a população não aprovara a era tucana. A der­rota na disputa presidencial de 2010 levou a um resgate da heran­ça FHC, inclusive em temas mais polêmicos como privatiza­ções e reforma do Estado.

A partir desse resgate, FHC passou a atuar mais na vida parti­dária- o tucano costuma parafra­sear o ex-líder espanhol socialis­ta Felipe González, segundo o qual ex-presidentes são como va­sos chineses, grandes e bonitos, mas que ninguém sabe onde pôr.

Passou, então, a defender a renovação do partido. No iFHC, núcleo de memória e centro de estudos que montou, criou agen­da com jovens economistas e de outros setores da sociedade. Co­meçou a ajudar na procura de um marqueteiro, o "João Santa­na do PSDB", como brincam tu­canos, numa referência ao responsável pela comunicação do PT e pela imagem da presidente Dilma Rousseff.

A ação de FHC pró Aécio tem ainda um viés político. Ajuda a agregar setores do PSDB paulis­ta, principalmente a ala sob a influência do ex-governador José Serra, no projeto do senador.

"Os dois sempre foram muito próximos. O partido tentou se afastar da nossa herança. O gran­de pensador do PSDB é FHC", declarou o presidente do PSDB mineiro, Marcos Pestana.

Em movimento ensaiado, FHC lançou Aécio ao Planalto com o apoio do presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Também no final do ano, em outro encon­tro em seu apartamento com

Guerra, o ex-senador Tasso Jereissati(CE) e o secretário-geral do partido, Rodrigo de Castro (MG), decidiu-se que a estraté­gia presidencial do PSDB passa­va pela indicação do senador co­mo presidente do partido.

No início, Aécio resistiu. Argumentou que causaria desgaste se tornar porta-voz das críticas a quase dois anos da eleição. Tam­bém disse que a liderança do PSDB afastaria potenciais legen­das aliadas que hoje estão na órbi­ta do governo. O mineiro tentou articular uma segunda opção, mas a tendência é que assuma a função de presidente do PSDB, até como forma de mostrar com­prometimento com 2014.

"Ele gostaria que Aécio fosse mais arrojado. Mas esse também é o perfil do Aécio", afirmou um interlocutor de FHC, comentando o que muitos paulistas falam nos bastidores: Aécio parece titu­bear em relação à candidatura ao Planalto. "Aécio está se movi­mentando, sim. Principalmente no campo das ideias", diz o depu­tado mineiro Paulo Abi-Ackel.

Economia» O discurso do sena­dor para 2014 será pautado pelo baixo crescimento do PIB, que deve fechar 2012 em torno de 1%. Para os tucanos, se a economia "patinar", o debate sobre o PIB será central em 2014, quando Dil­ma tentará se reeleger. Aécio de­senha um discurso no qual mos­tra o Brasil na lanterna do cresci­mento entre os emergentes e aponta os dois primeiros anos de Dilma como "tempo perdido" para a economia - entre os países da América do Sul, o Brasil pode fechar 2012 com crescimento apenas maior que o do Paraguai.

O time de economistas da era FHC passou a municiar Aécio com análises sobre a conjuntura econômica nacional e interna­cional. As ponderações abordam o enfoque crítico na dobradinha inflação alta com crescimento baixo. "A rigor, a Europa está em crise. Os Estados Unidos estão se recuperando. O mundo em de­senvolvimento cresce mais que o Brasil e com inflação menor. Estamos no final da linha na Amé­rica Latina. O problema não está lá fora", disse Bacha, em palestra para a bancada do PSDB no Con­gresso mês passado.

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