Título: PF tenta quebrar motor econômico do garimpo
Autor: Torres, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2013, Economia, p. B8
No esquema criminoso do contrabando de ouro em Roraima, o comerciante que compra as pedras é mais importante do que o garimpeiro, afirma o superintendente da Polícia Federal do Estado, Alexandre Saraiva. Para descobrir quem banca o negócio - e lucra muito com ele a PF montou a estratégia de "quebrar o motor econômico do garimpo", com a descoberta de que havia comerciantes ganhando R$ 1 milhão por mês desde a alta global do ouro, explica o delegado.
"Aos poucos fomos descobrindo que outra peça fundamental para o garimpo é o piloto de avião. Se tirar o avião, o garimpo não é abastecido. O garimpeiro só chega no garimpo de avião. E se já estiver lá, sem o avião, não é abastecido de comida, de remédios, de tudo", afirmou Saraiva.
Ao deflagrar a Operação Xawara (termo indígena para as doenças causadas pela fumaça exalada na queima do mercúrio, metal poluente usado nos garimpos de ouro), a PF conseguiu apreender dez aviões de pequeno porte e suspendeu a habilitação de oito pilotos e um mecânico, além de destruir pistas abertas em clareiras na Floresta Amazônica.
Com a repressão ao transporte aéreo, os garimpeiros ficaram isolados na mata e sujeitos a conflitos com indígenas, já que são invasores da reserva ianomâmi. "Os garimpeiros perderam a fonte de abastecimento e resolveram sair de qualquer jeito. Só que não tinham como. O Exército e a Fundação Nacional do índio (Funai) ajudaram muito na retirada. Nos últimos três meses, saíram 300 garimpeiros. Mas outros 300, que usam barcos para chegar aos garimpos, ainda permanecem", disse Saraiva.
Para o líder ianomâmi Davi Kopenawa, com a alta do ouro, a quantidade de garimpeiros na reserva cresceu com muita rapidez. Ele calcula em cerca de 500 os homens que atuam clandestinamente em pelo menos 200 garimpos dentro de territórios ianomâmis em Roraima. Kopenawa sustenta que as ações da Funai e da PF são insuficientes para acabar com os garimpos.
"Sempre falo que eles não querem retirar os garimpeiros. Eles (policiais e profissionais da Funai) não têm ordem de Brasília. Ainda não teve conflitos com os índios porque os garimpeiros dão, de presente, arroz, farinha, carne enlatada, conservas. Agora estão dando até arma de caça. Estou preocupado", disse o presidente da Hutukara Associação Yanomami, fundada em 2004 em Boa Vista. /s.t.