Título: Pirataria move cidade com resquício inglês
Autor: Torres, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2013, Economia, p. B8

Última cidade da Guiana antes da fronteira com o Brasil, Lethem guarda resquícios bem visí­veis da colonização inglesa. O in­glês é a língua falada até mesmo pelos indígenas. Os carros têm os volantes do lado direito. A mão do trânsito, como na Ingla­terra, é invertida. Alguns casarões assemelham-se às edifica­ções existentes nas áreas rurais do Reino Unido.

Mas a semelhança de Lethem com a nação colonizadora não vai muito além disso. O que mo­ve a cidade é o comércio pirata, o contrabando e o ouro, A ativida­de garimpeira é um componente importante na economia da re­gião, sustentada na venda em grandes lojas, com as dimensões de galpões, de mercadorias pro­duzidas em massa na China.

Nessas casas comerciais, a clientela brasileira, principal­mente de Roraima e do Amazo­nas, podem comprar diferentes modelos de bolsas falsificadas Louis Vuitton por R$ 50. No cen­tro do Rio, camelôs vendem o mesmo tipo de bolsa por R$ 150. As camisas Lacoste piratas custam de R$ 7 a R$ 15. Os tênis Ali Star, de R$ 35 a R$ 40. Um casaco Adidas, falso, vale R$ 45. Há per­fumes, roupas e equipamentos de dezenas de marcas famosas. Só que tudo produzido na China.

Estatísticas não oficiais co­mentadas pelo pessoal da Recei­ta Federal brasileira na fronteira com a Guiana avaliam entre US$ 6 milhões e US$ 7 milhões o total movimentado por mês em Le­them pelo comércio pirata. Não há estatística sobre a produção e o contrabando de ouro.

As mercadorias chegam ao Brasil, oficialmente, pela ponte que separa os dois países, sobre o Rio Tacutu. Do lado guianense, não há nenhuma fiscaliza­ção, tanto na saída do país quan­to na entrada. No lado brasilei­ro, a fiscalização é bem mais ri­gorosa. Na alfândega, em área do município de Bonfim, cerca de 150 bagagens passam diaria­mente, em média, pela aparelha­gem de raio X.

Como sabem da presença dos agentes da Receita na descida da ponte, os contrabandistas apro­veitam-se da facilidade da tra­vessia do Tacutu e, em barcos, alcançam a margem brasileira, a 50 metros de distância.

É uma região vazia. A popula­ção de Lethem não chega a 20 mil pessoas. A densidade popula­cional é de 0,3 habitante por qui­lômetro quadrado. No Brasil, há menos gente ainda. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís­tica (IBGE) informa que em Bon­fim vivem 10.943 pessoas./ S.T.