Título: PT diz que investigar Lula é absurdo e prepara ato em defesa de ex-presidente
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2013, Nacional, p. A4

A um mês de completar 33 anos, o PT reagiu com veemência à possibilidade de o ex-presidente Lúiz Inácio Lula da Silva ser investigado depóis que o principal operador do mensalão, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusou o petista de ter se beneficiado do pior escândalo de corrupção sob sua gestão na Presidência. Os petistas desqualificam Valério, condenado a mais de 40 anos de prisão, e o acusam de "manobra sórdida" para incriminar Lula. Na festa de aniversário do partido, em fevereiro, poderá ser organizado um ato político em defesa do ex-presidente.

Reportagem do Estado publicada na edição de ontem revelou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) decidiu encaminhar a acusação de Valério à primeira instância para uma investigação preliminar. Ontem, porém, o procurador-geral Roberto Gurgel negou em nota que a decisão já tenha sido tomada (leia abaixo), mas fontes da PGR confirmaram que ao Estado que a decisão fora tomada em dezembro.

No depoimento prestado à PGR em setembro de 2012, Valério disse que pagou despesas pessoais de Lula, rio início de 2003, por meio de depósito na conta dá empresa de segurança Caso, de propriedade do ex-assessor da Presidência Freud Godoy. Por ser ex-presidente, Lula perderia o foro privilegiado de investigação.

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS); considera "um absurdo" o Ministério Público apurar se houve envolvimento de Lula no mensalão. Na mesma linha, dirigentes do PT apontaram o dedo para Marcos Valério, acusando-o de tentar criar um fato político para minimizar o impacto de sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal.

É um absurdo que se produza uma nova investigação sobre esse tema, envolvendo o presidente Lula. Esse tema foi investigado à exaustão", disse Maia, ao lembrar que 25 réus foram condenados pelo STF. "Além disso, houve uma CPI e todas as pessoas investigadas tiveram suas vidas devassadas. Qualquer tentativa de envolver o presidente Lula nisso não tem cabimento."

Para Maia, Valério "não é confiável". "É um homem condenado a 40 horas de cadeia e busca, agora, criar um fato político para atenuar sua condição. Não me parece razoável que tenha de se reabrir um caso que jáfoi tratado nas mais diversas instâncias."

"É uma manobra sórdida de alguém que tenta sair do buraco", emendou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

"Desconhecido". Lula sempre negou conhecer Valério, a quem chamou de "mentiroso" e "jogador". Segundo informações obtidas pelo Estado, o ex-presidente está descansando em Angra dos Reis (RJ) com a família e não quer alimentar o assunto.

O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, divulgou nota, ontem, na qual destaca que Gurgel desmentiu ter a intenção de investigar o petista e critica o jornal. "Em relação à manchete de primeirà págíha do jornal O Estado de S. Paulo (...) lamento profundamente que o jornal tenha induzido ao erro seus leitores e outros órgãos da imprensa, já que não há hoje nenhuma decisão oficial sobre o assunto por parte da Procuradoria-Geral da República, de acordo com manifestação oficial do órgão desmentindo a matéria. Estranho tal equívoco na primeira página de um jornal tão tradicional como O Estado de S. Paulo, e prefiro acreditar que não existiu nenhum viés mal-intencionado no ocorrido", diz a nota assinada por Okamotto.

No depoimento ao Ministério Público, em setembro, Marcos Valério não só acusou Lula como disse que Okamotto ameaçou-o de morte, caso ele contasse o que sabia. "Se o Ministério Público tem algum elemento de credibilidade e acha relevante fazer a investigação sobre isso, acho que tem mais é de fazer. Esse é o papel do Ministério Público", reagiu Okamotto.

Para o secretário de Assuntos Institucionais do PT, Vilson Oliveira, o partido não tem nada a temer. "No aniversário do PT, em fevereiro, vamos fazer um ato político na Câmara em defesa de Lula, do partido e de todos os nossos militantes. É um ato pró-PT", contou.

Além de comemorar 33 anos em fevereiro, o PT completou umadécada à frente da Presidência, desde a eleição de Lula e agora com Dilma Rousseff. "Não é a primeira vez que tentam criminalizar o legado de Lula, mas nós sempre manteremos a mão estendida da solidariedade em relação a ele", disse o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE).

"O procurador pode mandar o depoimento (de Valério) para a primeira instância e vai ver que não tem nada", afirmou o secretário de Assuntos Institucionais do PT. "Ele deveria agir sempre assim, mas das outras vezes não foi tão rápido" ironizou. No ano passado, o PT acusou Gurgel de engavetar investigações que apontavam a ligação entre o então senador Demóstenes Torres e o contraventor Carlos Cachoeira. / DENISE MADUENO, VERA ROSA e DAÍENE CARDOSO