Título: A inflação neste ano deverá ser mais alta que em 2012
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2013, Economia, p. B2

Para um grande número de econo­mistas, a inflação neste ano deverá superar os 6% e, portanto, ficar aci­ma da inflação do ano passado. Não há dúvida de que is­so não ajudará o Brasil a atrair capi­tais externos, mas talvez o aspecto mais negativo seja que, por causa do desmonte da política monetária, não será fácil controlar os preços.

É sabido que a inflação de amanhã exerce um efeito sobre a de hoje. Em 2012, com as decisões do governo e sob a bênção do Banco Central, foi desmontada a política monetária, alegadamente para promover um crescimento que não se verificou. Se acres­centarmos a isso a forte presença da indexação na formação dos preços, a começar pelos salários, pode-se imaginar um carry over nada negligenciável a favor da inflação.

Em 2012 a economia brasileira vi­veu um clima de liquidez oriundo não tanto do exterior, como fazia crer o governo, mas dos crescentes gastos governamentais - não para investir, mas para cobrir despesas de custeio. Se realmente o governo der priorida­de aos investimentos na infraestrutura, porém sem diminuir os gastos de custeio, como parece, com sua inten­ção de reduzir o superávit primário, na verdade será mais uma vez respon­sável pelo excesso de liquidez.

Outro problema decorre de uma conjuntura de quase pleno emprego, que dificulta manter os custos sala­riais dentro de limites suportáveis, especialmente no setor dos serviços.

O governo continua a apostar em prosperidade econômica fundada no crescimento da demanda; sem levar em conta que a indústria nacional não está mais bem preparada do que no ano passado para atendê-la. A indústria prefere importar muitos componentes dos seus produtos, num contexto em que a custosa intervenção do Banco Central e a elevação da taxa cambial contribuirão para pressionar os preços.

O Relatório de Mercado (Focus), di­vulgado pelo Banco Central, mostra o pessimismo dos especialistas: a taxa de inflação prevista para 2013, que há quatro semanas era de 5,42% (IPCA), não cessa de aumentar e já é de 5,53%.

Tudo indica que o preço da gasolina não poderá deixar de subir para reduzir o ônus que representa para a Petrobrás. Existem, ainda, muitas dú­vidas sobre a redução do preço da energia elétrica, que, se for efetiva­da, aumentará os subsídios pagos pe­lo governo. Sabe-se também que, apesar de uma maior produção agrí­cola, será difícil conter preços que se formam no mercado internacional. E a velha política monetária não será reativada tão cedo.