Título: Chavistas responsáveis por transição se reúnem em Cuba a uma semana da posse
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2013, Internacional, p. A12
A uma semana da data prevista na Constituição para o início do novo mandato do presidente Hugo Chávez, a cúpula chavista se reuniu ontem em Havana, onde o líder se recupera de sua quarta cirurgia contra um câncer pélvico. O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, viajou na quarta-feira para a ilha, onde já estavam o vice-presidente Nicolás Maduro e o irmão do presidente, o governador de Barinas, Adán Chávez.
Analistas venezuelanos avaliam que a cúpula chavista discute como concretizar a transição, caso o presidente não consiga assumir o mandato. A Constituição venezuelana prevê que, em caso de morte ou incapacidade, o presidente da Assembleia Nacional, no caso Cabello, assuma a presidência e convoque novas eleições em 30 dias.
"Estão preparando a transição, caso o presidente esteja muito doente para assumir o poder. Seus aliados têm pouca autonomia para tomar decisões porque sempre foi Chávez quem decidiu tudo", avalia a socióloga Mar- garita López Maya, da Universidade Central da Venezuela (UCV). "Não sabemos se Chávez morrerá antes ou depois da posse, mas se vê que ele está muito mal. O chavismo tem se preparado, com a ajuda do governo cubano, para se manter unido durante a transição até as novas eleições." .
Para o cientista político Omar Noria, da Universidade Simón Bolívar, não há uma divisão significativa entre os principais lideres chavistas. "Eles mesmos dizem que suas diferenças são resolvidas internamente. A divisão entre militares e civis é falsa. Hámatizes, interesses e nem tudo é preto e branco", afirmou o analista. "A cúpula está em Cuba porque Havana não é apenas um centro de saúde para Chávez, mas também um centro político."
Antes das complicações no estado de saúde do presidente, anunciadas por Maduro no fim de ano, o chavismo planejava adiar a posse para dar tempo para o presidente se recuperar. Os magistrados do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) e Cabello já disseram que a data estipulada pela Constituição pode ser alterada. Alguns chavistas defendem que o juramento poderia ser tomado em Havana.
A agenda de Cabello em Cuba não foi divulgada. Amanhã, ele disputa a reeleição da presidência da Assembleia. Maduro está em Havana desde 28 de dezembro e deveria voltar na quarta-feira, quando acabou o período de cinco dias para ausência do país sem permissão do Congresso. A oposição exigiu o retorno do vice, denunciou um "vácuo de poder" e voltou a cobrar do governo informações mais claras sobre o estado de saúde do presidente. Maduro nomeou como interino o ministro de Energia, Héctor Navarro.
Estável. Antes de embarcar, Cabello rebateu as críticas. "O chavismo tem muito claro o que precisa fazer. A oposição que cuide de seus assuntos", disse o presidente da Assembleia por meio de sua conta no Twitter. "Se os dragões de Komodo (como ele se refere à oposição) acham que podem fazer exigências ao povo chavista, não se equivoquem. Tristeza não é debilidade." Também por meio de sua conta no Twitter, o ministro de Ciência e Tecnologia, Jorge Arreaza, genro de Chávez, que está em Havana com familiares e colaboradores, informou na quarta-feira que o presidente está "estável" dentro de um quadro de saúde "delicado". "Chávez está batalhando duro e envia seu amor a todo nosso povo. Constância e paciência", pediu o ministro. Chávez está em Cuba desde 10 de dezembro. Antes de passar pela quarta cirurgia em 18 meses, ele designou Maduro como seu sucessor, caso não tenha condições de reassumir suas funções.
Chávez foi reeleito em outubro para um quarto mandato ao derrotar, com 55% dos votos, o líder opositor Henrique Capriles. /