Título: Dilma diz que só Banco Central fala de juros e inflação
Autor: Monteiro, Tânia ; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2012, Economia, p. B3

Segundo a presidente, "Ministério da Fazenda fala de dívida e de superávit"; ela evitou fazer previsões para indicadores econômicos

A presidente Dilma Rousseff está confiante que o Brasil vai "crescer mais" em 2013, a inflação "vai continuar" sob controle e o déficit das contas públicas será "decrescente". Mas essa confiança não é traduzida em números. Durante café da manhã com jornalistas, ontem no Palácio do Planalto, a presidente evitou fazer qualquer projeção sobre indicadores econômicos. "Não faço previsão ou esse tipo de conta", resumiu.

O comportamento da taxa básica de juros também entrou na lista de indicadores sem estimativas presidenciais. Dilma deixou claro que a queda da Selic para o atual patamar de 7,25% ao ano abriu espaço para o governo focar seus esforços na redução dos impostos, agenda que ganhou força ao longo de 2012 e será estendida no próximo ano. Mas a presidente frisou que não cabe ao Palácio do Planalto falar sobre o rumo da taxa básica. "No meu governo não tem ninguém autorizado a falar de inflação, de juros, sem ser o Banco Central. O Ministério da Fazenda fala sobre dívida e superávit", avisou.

A presidente também evitou entrar em outra discussão polêmica: qual é a taxa de câmbio ideal. Dilma lembrou que uma das consequências de reduzir os juros para níveis semelhantes aos praticados em outros países foi alcançar "um câmbio mais realista". Diante da insistência dos jornalistas para saber qual a melhor cotação para o dólar, Dilma disse que não cederia: "Não me manifesto quanto a juros e, tampouco, câmbio. Eu nasci há 65 anos".

Sangue e suor. No entender da presidente, um dos grandes feitos tos econômicos do governo até agora foi reduzir a relação entre a dívida pública e o tamanho da economia. Ela lembrou que prometeu encerrar seu mandato com uma dívida equivalente a 35% do Produto Interno Bruto (PIB). Passados dois anos desde que subiu a rampa do Planalto, essa relação já está em 35,6%. "Isso é às custas de muito suor e sangue", afirmou.

Segundo a presidente, a equipe econômica fará "todo o possível" para que o déficit nominal das contas públicas, hoje em torno de 2% do PIB, seja "decrescente". Questionada se achava que poderia chegar a zero, a presidente reagiu: "Não acho nada. Estas não são variáveis macroeconômicas que possam ser mudadas ao nosso bel prazer".

Para Dilma, "é preciso ter cautela para não produzir o que não é sustentável. Tudo tem de ser feito com cautela, com prudência e sem aventureirismo".

Interferência. Dilma reconheceu que o governo, de fato, interfere na economia, mas frisou que essa interferência busca melhorar as condições do empresariado, criando um ambiente de financiamento mais estável, com operações de prazos mais longos e menos exigências de garantias. "Interferi sim. Eu briguei sim para ter financiamento de 20,30 anos. E ainda brigo para ter financiamento de uma parte expressiva do empreendimento", disse. Enquanto esse ambiente de estabilidade não for alcançado, "não haverá financiamento de longo prazo, nem que a vaca tussa".

A presidente voltou a pedir que os bancos privados ajudem a financiar a produção. "Precisamos que os bancos privados participem do financiamento de longo prazo, e não só o BNDES. Precisa de uma presença maior do setor privado para dar musculatura ao sistema."