Título: Atraso em linhas de transmissão piora cenário
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2013, Economia, p. B3

O atraso na construção de li­nhas de transmissão contri­bui para o complicado cenário do setor elétrico do Brasil. A Hidrelétrica Santo Antônio, em Porto Velho (RO), por exemplo, encerrou 2012 com 9 das 27 turbinas funcionando, mas sem autorização para a en­trada em operação da linha que vai levar a energia gerada na usina para o Sistema Interli­gado Nacional. Desse modo, o mercado deixa de receber 644 megawatts (MW) de eletrici­dade, o suficiente para abastecer cerca de 3 milhões de resi­dências.

Pelas previsões da usina, ou­tras 18 turbinas deverão entrar em operação comercial este ano. Quando estiver em pleno funcio­namento, em 2015, a hidrelétri­ca, uma das duas construídas no Rio Madeira, já no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), terá capacidade para atender à demanda de energia de mais de 40 milhões de pessoas em todo o País.

Atualmente, 57% dos em­preendimentos de transmissão estão com atraso no cronograma. São 238 linhas e subestações com problemas ambientais e ou­tros questionamentos, confor­me noticiado pelo Estado em 16 de dezembro.

A assessoria de Santo Antônio informou que até a entrega do Linhão do Madeira, que conectará definitivamente a usina ao sis­tema nacional, a energia está sen­do transmitida por meio da Su­bestação Coletora de Porto Ve­lho, que garante a conexão da usi­na ao Sistema Elétrico Regional, alcançando os Estados de Ron­dônia e Acre.

O Linhão do Madeira depende ainda da Licença de Operação, a ser concedida pelo Instituto Bra­sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que a promete para este semestre.

A linha de transmissão previs­ta para Santo Antonio e Jirau te­rá 2,4 mil quilômetros, e ligará Porto Velho a Araraquara, em São Paulo. De acordo com infor­mações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Licença de Operação deveria ter sido dada até setembro de 2012. Quanto às estruturas, somente 73% estão concluídas. O início da operação comercial, previsto para abril de 2012, já está quase com um ano de atraso.

Licenças. A usina de Santo An­tônio, assim como a de Jirau, lo­calizada a cerca de 120 quilôme­tros de Porto Velho, acabou se transformando num símbolo da chegada das hidrelétricas à Ama­zônia. A licença ambiental para os dois empreendimentos cau­sou a demissão da então minis­tra Marina Silva e de toda a sua equipe do Meio Ambiente, em 13 de maio de 2008. Ao sair, a minis­tra afirmou que perdia "a cabeça mas não perdia o juízo".

Indignado com a resistência à concessão das licenças, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou os ambientalistas de criarem todo tipo de obstácu­lo às obras. "Jogaram o bagre no meu colo", reagiu Lula, ao co­mentar a justificativa dos técni­cos do Ibama para a negativa das licenças, segundo as quais as usi­nas atrapalhariam os cardumes de bagre de procriarem, porque para a desova os peixes têm de subir o Rio Madeira, entrando afluentes acima, até o território boliviano.

Santo Antônio começou a ope­rar em março de 2012, nove me­ses antes do cronograma origi­nal. A antecipação foi possível porque a usina tem um sistema de quatro casas de forças inde­pendentes que podem gerar energia já com a finalização da montagem e instalação da pri­meira unidade geradora, sem ter de esperar o término da obra.