Título: Apagão pode reduzir expansão do PIB em 2013
Autor: Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2013, Economia, p. B4

Para analistas, racionamento de energia derrubaria os investimentos das empresas

A possibilidade de uma crise no setor energético pode frus­trar de novo as expectativas em tomo da recuperação eco­nômica do País e levar o Produ­to Interno Bruto (PIB) de 2013 a uma alta inferior a 3%. A ava­liação é de economistas ouvi­dos pela Agência Estado.

Eles argumentam que o risco de um racionamento afeta a con­fiança dos empresários e pode atrapalhar ainda mais os investi­mentos e a produção, que patina­ram no ano passado.

O professor da PUC-RJ e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, diz que não tem dúvidas de que a questão da energia "vai afetar in­vestimentos e o nível de ativida­de neste ano". Hoje, a previsão dele para o crescimento do País é de 2,7%. Mas, dependendo da extensão do problema elétrico, pode ir a 2,5%.

A economista Alessandra Ribei­ro, sócia da Tendências, afirma que a projeção da consultoria é de que o PIB avançe 3,2% em 2013. "Mas, como é razoável ava­liar que as térmicas deverão fun­cionar durante todo o ano, isso poderá diminuir investimentos e a produção industrial, num con­texto já repleto de muita incerte­za de recuperação do País no cur­to prazo", disse. "Assim, é possí­vel que o PIB cresça menos do que 3% neste ano."

O co-diretor de Pesquisas para a América Latina do banco Barclays, Marcelo Salomon, tam­bém ressalta que as expectativas dos empresários sobre a reação da economia brasileira em 2013 pode ser atingida pelo cenário turvo na área de energia.

"A possibilidade de raciona­mento está em todas as páginas dos jornais", disse. "Esse sinal ruim pode levar a uma redução não só dos investimentos dire­tos no País, como também dos relacionados a portfólio (ações e renda fixa). O investidor pode resolver aplicar seus recursos no México, por exemplo, onde as perspectivas econômicas no geral são melhores no médio prazo."

Segundo Salomon, é preciso es­perar mais algum tempo para avaliar se as previsões de alta do PIB de 3% e de aumento de 5,5% para a inflação medida pelo IPCA em 2013 devem ser altera­das. Ele lembrou que chuvas in­tensas podem surgir nos próxi­mos dois meses a ponto de regu­larizar a situação dos reservató­rios das usinas hidrelétricas. "Mas, em razão desse tema, o ris­co é de o crescimento ser menor que 3% e de a inflação subir mais que 5,5%", comentou.

Na avaliação de Alessandra Ri­beiro, o perigo real de a alta do PIB do País ficar abaixo de 3% neste ano deve levar o governo a retomar com doses vigorosas medidas fiscais para estimular os investimentos e a produção industrial, elementos fundamen­tais para impulsionar o PIB.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, no fim de 2012, que um crescimento de 4% é razoável para este ano. Em en­trevista recente à agência Dow Jones, o ministro avisou que 2013 será marcado por um núme­ro menor de medidas oficiais pa­ra incentivar o nível de atividade e que o momento seria de colher os frutos de medidas já tomadas. Ele ressalvou que, "se o PIB do quarto trimestre de 2012 e do pri­meiro trimestre, de 2013 forem fracos, o governo voltará a atuar com intensidade para tentar fa­zer a economia avançar". "A prio­ridade do governo Dilma é o cres­cimento, antes mesmo da infla­ção", complementou Mantega.