Título: Mudança de método evitou estouro do teto da meta
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2013, Economia, p. B1

Sem a nova metodologia de cálculo adotada pelo IBGE no início do ano, índice de inflação teria sido de 6,54%

Apesar de a inflação medida pe­lo índice de Preços ao Consumi­dor Amplo (IPCA) ao longo de 2012, de 5,84%, ter ficado den­tro do intervalo de tolerância do regime de meta (2,5% a 6,5%) e em queda na compara­ção com 2011 (6,5%), fato come­morado pelo governo, as esta­tísticas por trás do número ofi­cial mostram um quadro um pouco mais preocupante.

Segundo o ex-diretor do Ban­co Central, Alexandre Schwartsman, sócio diretor da Schwartsman & Associados, o de­clínio do indicador de preços resultou principalmente das mudanças na metodologia de cálculo do índice feito pelo Ins­tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado.

Uma simulação do IPCA de 2012 usando os mesmos pesos e critérios válidos em 2011 apon­ta que o índice seria de 6,54%, caso a metodologia anterior ainda estivesse valendo. O da­do, além de representar alta so­bre o ano anterior, mostraria ainda o rompimento do limite superior da meta de inflação ofi­ciai do governo.

As mudanças metodológicas foram definidas pelo IBGE com base nos novos padrões de con­sumo do brasileiros detectados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009. A última atualiza­ção do IPCA havia sido feita em 2006.

O economista faz questão de ressaltar que isso não significa que o IBGE quis propositada­mente apresentar um número menor do que o real por meio de mudanças nos cálculos, mas sim mostrar que não há um pro­cesso desinflacionário em cur­so no País.

"Apesar do crescimento me­díocre da economia, não há co­mo detectar um processo de queda da inflação, a não ser pe­la contribuição das mudanças metodológicas e também da re­dução dos impostos dos car­ros", diz Schwartsman em rela­tório.

Na sua visão, a perspectiva continua desfavorável. "Com o crescimento da economia de­vendo se acelerar e o mercado de trabalho ficando mais aper­tado em 2013, a inflação deverá acelerar, mesmo com a contri­buição da queda dos preços de energia."

Mesmo em meio a esse cená­rio, ele não acredita em mudan­ças nas políticas monetárias adotadas pelo Banco Central até então. O BC se reúne na pró­xima semana para decidir a ta­xa básica de juros (Selic).