Título: Inflação acelera, fecha 2012 em 5,84% e deve iniciar o ano sob maior pressão
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2013, Economia, p. B1

IPCA de dezembro chega a 0,79%, supera as projeções dos analistas e indica que a inflação deve continuar muito alta no início do ano

A inflação acelerou em dezem­bro e fez o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechar 2012 com um avanço de 5,84%. O indicador, usado como referência para a inflação oficial, foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou aci­ma da metajestipulada pelo go­verno, de 4,5%, pelo terceiro ano consecutivo, embora ain­da esteja dentro do limite de tolerância (até 6,5%).

A sequência de altas iniciada em agosto na taxa do IPCA culmi­nou com uma inflação de 0,79% em dezembro, a maior desde março de 2011. O movimento in­dica que os preços não devem dar trégua no início de 2013.

"Vamos entrar no primeiro tri­mestre de 2013 com inflação mui­ta alta, em torno de 0,75% a 0,8% em janeiro. Em fevereiro, se hou­ver redução na energia elétrica, terá a compensação do reajuste na gasolina. Continua um qua­dro preocupante, sem nenhum sinal claro de convergência ain­da para o centro da meta", ava­liou o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.

Em 2012, o item de maior im­pacto no bolso das famílias foi o empregado doméstico, com au­mento de 12,73%. Os salários su­biram conforme a oferta de mão de obra diminuiu. Diante de um mercado de trabalho aquecido,as empregadas domésticas têm migrado para empregos mais atraentes, informou o IBGE.

O ano também foi de grande pressão dos alimentos, que pas­saram por um choque de oferta ao longo de 2012 por causa de problemas climáticos no Brasil e no exterior. Ficaram mais caros produtos básicos da dieta do brasileiro, como a farinha de man­dioca, feijão, alho, batata-inglesa, cebola, ovo, frango e pão fran­cês, entre outros itens. O segun­do lugar na lista de principais im­pactos no IPCA do ano foi ocupa­do pela refeição fora de casa. "Com a renda aumentando, a pressão de demanda sobre a ali­mentação fora de casa tem sido muito grande. Isso propicia o re­passe dos custos maiores dos ali­mentos", diz Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índi­ces de Preços do IBGE.

Com a reclamação de que os salá­rios não são reajustados na mes­ma proporção que os gastos men­sais, muitos consumidores op­tam por priorizar alguns custos em detrimento de outros. "Um conjunto de altas de preços teve influência direta sobre a rotina da minha família. Já pensamos em reduzir os dias de trabalho da empregada doméstica", contou a coletora de dados do IBGE Eli­zabeth Costa.

Para quem segue uma rotina de trabalho e não tem como fugir dos restaurantes, uma saída é pesquisar os melhores preços. "Costumo olhar os preços antes de decidir por um local", disse a secretária Elimar Soares.

Os serviços continuaram a subir, também impulsionados pela renda. No ano passado, a alta foi de 8,74%, enquanto o IPCA avan­çou 5,84%. As passagens aéreas foram destaque nainflação de de­zembro e aumentaram 26% ao longo de 2012. Mas houve pres­são ainda do encarecimento de itens como aluguel residencial, condomínio, mão de obra, excur­são e cursos regulares.

Mesmo sem superar os 6%, a alta no IPCA em 2012 ficou no limite das previsões do mercado financeiro. Mas economistas não acreditam que o resultado leve a um novo ciclo de alta na taxa básica de juros. "Por mais que a inflação esteja rodando a 5,5% em 2013, o cenário de ativi­dade econômica ainda é muito fraco", afirmou Inês Filipa, economista-chefe da Icap.