Título: O programa para 2013 é pôr o pibinho para crescer
Autor: Rocha, Marco Antonio
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2012, Economia, p. B2

Finalmente! Arre! Aca­bou! Acabou 2012, ano do mensalão e... do "pibinho". Vamos todos para 2013, que nossa líder quer que se­ja um ano do pibão grandão. Va­mos para opibão grandão. Expres­são que pode cair fácil no terreno da picardia. Mas, da picardia fica encarre­gado o programa Casseta & Plane­ta, vamos torcer de fato para que 2013 seja melhor do que 2012. Deve ser, porque o ano que termina foi o pior da era Lula-Dilma, iniciada em 2003. Em ter­mos de economia agregada, ou seja, em termos de PIB, parece que chegamos ao fundo do poço. Então, daqui para a frente, só po­de haver recuperação. O engraçado ministro da Fa­zenda, Guido Mantega, reuniu-se com jornalistas em Brasília, na semana antes do Natal, num café da manhã, para um ato de fé - fé no futuro próximo. Mas neste ano de 2012 eleja apostou tantas vezes no crescimento do PIB, que se mostrou cada vez menor, que é o caso de indagar quanta fé será necessária para que o ato de fé surta efeito. Uma coisa é inegável: o gover­no da presidente Dilma não está contando apenas com a fé. Tem feito, digamos, das tripas coração para anabolizar o crescimento do PIB brasileiro, embora o resul­tado tenha sido até agora desani­mador, bem menor do que as do­ses continuadas de vitaminas do governo autorizariam prever. E, pior, bem abaixo do crescimento médio obtido pelo bloco de paí­ses com grau de desenvolvimen­to semelhante ao nosso. O grupo principal de "emergentes" está crescendo a taxas médias entre 4% e 5% ao ano; a China está cres­cendo menos do que o normal, ou sej a, apenas 7,5% ao ano. O Bra­sil está ficando na rabeira, com 1% de aumento do PIB neste ano. Isso ainda não prejudicou o prestígio do governo e da pró­pria presidente perante a grande massa da opinião pública por um motivo bem mais objetivo do que fé: o emprego tem-se manti­do e até aumentado um pouco, na média, e bastante, em alguns setores. De algum modo, isso tem sustentado os níveis médios de renda que foram alcançados nos anos pré-Dilma. Para alguns grupos sociais, até os elevou um pouco. E o desemprego tem esta­do num dos níveis mais baixos da história. Este intrigante 2012 oferece, então, o aparente paradoxo de um PIB crescendo quase nada e de uma economia andando razoa­velmente bem. É pura perda de tempo tentar decifrar o enigma. Melhor pensar se a situação pode continuar co­mo está, se pode enveredar para o pior, uma recessão, ou se o PIB volta a crescer - de forma "robus­ta", como acredita Mantega e co­mo todos nós desejaríamos. Para a situação continuar enig­mática como está por algum tem­po, o governo só tem de ir tocan­do o barco da mesma forma com que tocou até agora: incentivos ao consumo, desonerações fis­cais, barateamento e expansão do crédito. Mas o governo quer mais do que isso, tanto por motivos políti­cos - pois esse ramerrão não dará muito gás para a reeleição de do­na Dilma - quanto por motivos econômicos. E esse ritmo de pro­cissão do enterro, pode resvalar para a recessão, aí, sim, a reelei­ção se tornaria muito problemáti­ca. O que o governo quer mesmo é o pibão grandão, por mais ca­nhestra que seja a expressão. A receita é complicada de ar­mar, mas simples de entender: basta aumentar a taxa de investi­mento na economia. O governo tem feito muito gasto que não passa de esbórnia e que entra na conta de investimento público. Mas investimento público é coi­sa muito séria, Não é dar dinheiro para empresas privadas investi­rem adoidado, como o BNDES faz para, supostamente, ter lucro com os juros pagos pelos empre­sários. Isso é bom e necessário nu­ma proporção honestamente conduzida. Mas nem assim é in­vestimento público. Este tem de ser orientado, com racionalida1 de, competência e administração esmerada para a infraestrutura, pois uma boa infraestrutura ace­lera os investimentos privados, reduz os custos das empresas pri­vadas, gera empregos, atrai capi­tais nacionais e internacionais, faz o País e a economia marcha­rem aceleradamente, como o ca­so da China demonstra. Essa é a parte que se pode cha­mar de investimento público de resultados. Aoutra parte, absolu­tamente necessária, mas com efeito mais demorado, é o investi­mento na educação, na saúde, na Justiça e na segurança - as quatro pernas de sustentação do Estado moderno. O investimento privado, que completa a equação, virá em quantidade e qualidade crescen­tes na proporção em que o inves­timento público se torne não só visível, como bem fundamenta­do e consequente. O investimen­to privado cuidará de tudo aquilo que não é, nem deve ser, atribui­ção do Estado: desde a elabora­ção de pizzas até a construção e administração de aeroportos. E para que sirva à sociedade, bas­tam duas exigências: eficácia e competitividade. Então, a tarefa do governo em 2013, e além de 2013, é cumprir e acelerar um programa de investi­mentos públicos que já existe -mas se arrasta a passo da tartaru­ga - e atrair o máximo de investi­mentos privados, nacionais e es­trangeiros, sem firulas, leguleios e exigências de jerico, como acon­teceu na licitação dos aeroportos - pois empresa privada que acei­ta tais exigências é porque não pretende cumprir o contrato. Com isso, o pibinho recomeça­rá a crescer.

JORNALISTA.