Título: O ano de 2013 será mais calmo, com menos medidas, afirma Mantega
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2013, Economia, p. B3

Ministro da Fazenda diz que governo planeja reduzir as políticas para desvalorizar o real e diminuir as taxas de juros em 2013

O governo brasileiro planeja reduzir as políticas para enfra­quecer a moeda local e dimi­nuir as taxas de juros em 2013, à medida que o crescimento econômico começa a se recu­perar após dois anos de crise, disse ontem, em entrevista, o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

"O ano de 2013 vai ser mais cal­mo, com menos medidas, por­que elas já foram tomadas", afir­mou o ministro Mantega. "As po­líticas monetárias e cambiais estão ajustadas."

Enfrentando queda do cresci­mento nos últimos dois anos, o Brasil reduziu sua taxa básica de juros, a Selic, para uma baixa re­corde de 7,25% no ano passado e introduziu uma série de medi­das para impedir que sua moeda valorizasse em relação ao dólar, como a implementação de con­troles de capital sobre alguns in­vestimentos estrangeiros.

"O Brasil agora tem de se adap­tar, tem de se acostumar com es­ses níveis de taxas de juros e de câmbio", afirmou o ministro. "É claro, sempre pode haver flutua­ções, tanto em termos de taxa de juros quanto de moeda, mas esta­mos em uma posição totalmente diferente da que estávamos no começo do ano passado."

Medidas. Além das taxas de ju­ros e de câmbio, o governo da presidente Dilma Rousseff to­mou uma série de outras medi­das para impulsionar o crescimento nos últimos anos.

As medidas provocaram críti­cas de alguns analistas, que alegam que elas interrompem o investimento e podem provocar inflação, ao mesmo tempo em que não garantem a recuperação da economia. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu a um ritmo menor, de cerca de 1% em 2012, após registrar alta de apenas 2,7% em 2011.

Efeito. Mantega rebateu as críti­cas, dizendo que as medidas es­tão começando a surtir efeito e ajudarão a impulsionar a maior economia da América Latina a taxas de crescimento entre 3% e 4% este ano e acima de 4% em 2014.

"Estamos começando com um cenário internacional me­lhor e vamos começar a colher o que plantamos em 2011 e 2012", disse Mantega.

Ele afirmou que a economia do Brasil começou a se acelerar nos meses finais de 2012, en­quanto a previsão para os Esta­dos Unidos melhorou, a crise da dívida da Europa parece ter evitado o pior cenário e a taxa de crescimento da China está começando a subir novamen­te.

Guerra cambial. Mantega, de 63 anos, ganhou proeminência global em 2010 ao acusar os EUA e a Europa de se engajar em uma "guerra cambial" por introduzi­rem políticas que, segundo ele, enfraqueceram o dólar e o euro em detrimento das economias de mercados emergentes como o Brasil, tornando-as menos competitivas no processo.

Os controles de capital imple­mentados por Mantega foram destinados a evitar que dólares baratos inundassem o Brasil e fortalecessem o real.

Esses controles, combinados com um crescimento econômi­co mais fraco e menores taxas de juros, enfraqueceram a moeda em cerca de 25% ante o dólar des­de meados de 2011. "A taxa de juros está em uma posição favorável", disse Mantega.

"As taxas de juro e o câmbio, as principais variáveis, estão em um estado mais equilibrado do que no começo de 2012", afir­mou. A moeda agora "flutua mais de acordo com o sabor do mercado", completou.

O ministro reconheceu que muita depreciação pode ser uma coisa ruim: o enfraqueci­mento do real em 2012 prova­velmente contribuiu em 0,5 ponto porcentual para a infla­ção em 2012 e uma moeda mais fraca também torna mais caro importar equipamentos de fa­bricação necessários para a in­dústria local.

"Uma taxa de câmbio muito depreciada também pode ser in­conveniente", disse ele./ DOW JONES NEWS WIRES