Título: Reforma dos apartamentos funcionais de deputados já custa R$ 280 milhões
Autor: Bergamasco, Débora
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2013, Nacional, p. A4

A reforma dos 432 apartamen­tos funcionais destinados aos deputados federais vai custar pelo menos R$ 280 milhões aos cofres públicos, segundo estimativas da Câmara - o que equivale a R$ 650 mil para ca­da imóvel. Até agora, a Casa gastou cerca de R$ 108 mi­lhões com os nove prédios que já passaram ou ainda estão sendo reformados.

Na recauchutagem dos outros nove edifícios devem ser gastos mais R$ 172 milhões - valor que pode subir, porque será feito um novo edital de licitação. Só em banheira de hidromassagem os gastos devem atingir R$ 1,5 mi­lhão. Cerca de 90 deputados es­tão na lista de espera por um apartamento.

Os primeiros contratos de lici­tação para as reformas foram fir­mados em 2007. De lá para cá, seis prédios - com 24 apartamen­tos cada um - foram entregues depois de atrasos que, somados, extrapolaram em mais de três anos a data prevista para conclu­são das obras. Entre os motivos da demora estão problemas com construtoras.

A empreiteira Palma abando­nou as obras no meio da execu­ção, sendo necessário fazer uma nova licitação. A Engefort foi à falência e deixou um prédio qua­se pronto. Agora, a Câmara vai assumiros custos finais e preten­de colocar o prédio à disposição já no carnaval ou na Semana San­ta. As obras em outros três edifí­cios estão em fases menos adian­tadas, mas estima-se que este­jam prontos até agosto.

Desperdício. O deputado Jú­lio Delgado (PSB-MG), há dois anos na 4.a Secretaria da Mesa Diretora, é responsável, entre ou­tros afazeres, por providenciar o apartamento funcional ou verba de auxílio-moradia para todos os colegas da Câmara, atender aos pedidos de reparos e acompa­nhar o andamento das obras. Ele comemora as reformas.

Delgado defende ainda que agora os imóveis, que perten­cem todos à União, estão mais valorizados. O cálculo é que va­lem hoje, em média, R$ 2,35 mi­lhões cada um.

"Quando eu assumi essa fun­ção, fiz um levantamento e vi que apenas quase 200 deputa­dos ocupavam os apartamentos funcionais e mais de 300 requisi­tavam o auxílio-moradia de R$ 3 mil. Isso significa que éramos obrigados a manter vigilância, limpeza e reparos em prédios em que moravam meia dúzia de pessoas. Era um desperdício." E continua: "Com a revitalização dos prédios, tornamos os funcio­nais mais atrativos e invertemos esse número: hoje, menos de 200 recebem o auxílio-moradia. E com lista de espera", afirma.

"Sei que essa história da ba­nheira de hidromassagem vai pe­gar mal, mas já estava prevista nos editais de licitação muito an­tes de eu assumir a Secretaria, então eu não tenho nada a ver com isso", justifica Delgado.

Condenado pelo Supremo Tri­bunal Federal (STF) no proces­so do mensalão, o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) já mora em um funcional novo em folha. Os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT), também condenados pelo mensalão, moram em apar­tamentos antigos. José Genoino (PT-SP), que era suplente e assu­miu a cadeira após o julgamento, já pediu seu auxílio-moradia.

Todas as habitações, de 200 metros quadrados, seguem o mesmo padrão: uma espaçosa sa­la de estar, que pode ser dividida em até três ambientes; piso de cerâmica; quatro quartos, sendo dois com suíte; cinco banheiros adornados com granito; cozinha planejada com dois ambientes.

Diferentemente dos antigos apartamentos que possuem ba­nheiras simples de cerâmica, as novas moradias foram incremen­tadas com banheiras de hidro­massagem. Algumas delas po­dem ser controladas por uma te­la digital, em que a temperatura da água pode ser regulada, por exemplo. De acordo com o edital de licitação da construtora PW, responsável pela restauração de trêsblocos, cada um desses uten­sílios custou R$ 3.395.

Alguns parlamentares não gos­taram do luxo e pediram autorização para retirar a banheira, com lugar para só uma pessoa.

Ar condicionado. Deputados tentaram, no ano passado, plei­tear com a 4.a Secretaria a inclu­são de ar condicionado nas no­vas moradas. Mas como o uten­sílio não estava previsto no pro­jeto feito em 2007, a Câmara oferece apenas o "acesso ao ar condicionado", ou seja, o bura­co na parede.

"Quem quiser vai ter que tirar do próprio bolso", disse Delgado.

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