Título: FMI teme relapso na condução da economia
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2013, Economia, p. B6

Lagarde enfatiza que EUA precisam cortar gastos e Europa, de uma união bancária

A economia mundial escapou do risco de colapso em 2012, mas as autoridades nacionais não podem relaxar seus compromissos de ajustes macroeconômicos e de reformas estruturais. Com essa mensagem "contra o relapso", a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, enfatizou ontem a necessidade de os Estados Unidos fecharem um pacote de corte de gastos públicos, adiado há quase dois anos, e de a Europa reduzir os custos de empréstimos e construir a união bancária.

Lagarde sublinhou que o fato de ter havido uma pequena recuperação na economia mundial e de os mercados terem antecipado boas notícias não significa que os governos devam "afrouxar o ritmo" e voltar às velhas práticas. "Nós paramos o colapso. Mas não é hora de relaxar", alertou.

O recado foi direcionado especialmente para os Estados Unidos, onde a Casa Branca e os republicanos do Congresso têm até o fim de fevereiro para se entenderem sobre o corte de gastos públicos e o aumento do teto da dívida federal. Sem um acordo sobre o primeiro tema, a redução automática de US$ 560 bilhões será automaticamente disparada até 2022. Sem solução, o segundo imbróglio levará o governo de Barack Obama a suspender os pagamentos da dívida, fornecedores e servidores públicos.

"Os dois lados, juntos, têm de evitar erros. Devem aumentar o teto da dívida e apresentar um pacote de medidas fiscais consistentes de médio prazo", afirmou, com cuidado de recomendar atenção para que a recuperação econômica do país não seja prejudicada. "Eles devem claramente tocar no (gasto) com os programas sociais, entre outros", completou.

Lagarde expressou também sua preocupação com o risco de retrocesso na reforma do setor financeiro, aprovada em 2010 nos EUA. Parte da regulamentação dessa reforma depende de decisões do Congresso neste ano. "O apetite pelo crescimento da economia e da geração de empregos não é oposto à reforma financeira e à melhor supervisão bancária", afirmou.

Muralhas. Houve progressos nas reformas na União Européia que, em sua opinião, criaram mais instrumentos para a região lidar coma crise financeira. Mas Lagarde alertou para o fato de as muralhas de proteção contra o aprofundamento da crise da dívida "não se mostraram ainda operacionais". O bloco europeu, acentuou ela, tem ainda muito trabalho a fazer para concluir a unificação bancária, um dos meios para evitar futuros problemas.

Conforme avaliou, a situação na Grécia e em Portugal melhorou. Ambos os países passaram recentemente por avaliações de seus programas com o FMI e receberão desembolsos, autorizados anteontem pela instituição. Mas assim como os Estados Unidos, não podem descuidar de seus objetivos de adotar as reformas estruturais e de mirar o crescimento e a geração de empregos.

A China, desta vez, foi menos castigada nos comentários da líder do FMI. Conforme avaliou, o crescimento da economia chinesa tem sido "continuado e substancial", motivado mais pelo consumo do que pelas exportações. A taxa de câmbio, desvalorizada artificialmente entre 2008 e 2011, passou a ser ajustada. Essa mudança reflete-se no balanço de conta corrente da China e foi resultado de ampla pressão do FMI e de parte de seus meriibros.