Título: Investimento versus incerteza
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2013, Notas e informações, p. A3

A presidente Dilma Rousseff continua exortando os em­presários a investir para ampliar a capa­cidade produtiva, tornar o País mais moderno e mais competitivo e impulsionar o cresci­mento econômico. Mas terá de ir além da exortação - e da cobrança ocasional - para conseguir resposta mais positiva. Os empresários indus­triais continuam dispostos a investir, mas a incerteza econômica ainda se­rá, em 2013, a principal ameaça à reali­zação dos planos, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indús­tria (CNI) com 584 empresas, na maior parte médias e grandes. Esse risco foi apontado como o mais im­portante por 61% dos consultados. Es­sa parcela é menor que a do ano ante­rior (75,7%), mas aquele fator conti­nua no topo das preocupações e o go­verno deveria levá-lo em conta ao for­mular sua política. Como sempre, muitos entrevistados indicaram a in­tenção de investir. Desta vez foram 85,4%. O número impressiona, mas é o mais baixo em quatro anos. Foram 86,6% em 2010,92% em 2011 e nova­mente 86,6% no ano passado. Além disso, a distância entre intenção e rea­lização tem sido considerável. Diante das más surpresas, o espírito animal dos empresários tem frequentemen­te recuado e preferido um cauteloso recolhimento.

Apenas 50,2% das indústrias inves­tiram em 2012 de acordo com os pla­nos. O melhor desempenho nesse quesito ocorreu em 2010, quando a economia, num vigorosa reação à crise de 2008-2009, cresceu 7,5%. O entusiasmo ainda se manteve no ano seguinte, quando 57,8% dos con­sultados seguiram o roteiro traça­do, mas nesse ano as condições eco­nômicas pioraram e o Produto Inter­no Bruto (PIB) aumentou apenas 2,7%. Mesmo esse resultado medío­cre foi apenas o prelúdio de mais um desastre em 2012. Para 2013 a ex­pectativa geral é de um desempe­nho econômico melhor, com a maior parte das apostas concentra­I da na faixa de 3% a 3,5%.

Os planos mencionados pelos em­presários, no último levantamento da CNI, são claros sinais de muita cautela e de insegurança diante dos desafios do mercado global. Produzir para o mercado interno é o objetivo principal de 80,6% dos executivos consultados. Só 4,7% indicam a ex­portação como prioridade. A indús­tria nunca esteve tão voltada para dentro nos últimos dez anos.

A prioridade ao mercado interno é até certo ponto normal, em países grandes, como o Brasil. Mas também é normal, em economias razoavel­mente abertas, levar em conta os pa­drões internacionais de produtivida­de e de qualidade. Os empresários po­dem até preferir o jogo no próprio campo, mas nem por isso ficarão li­vres da concorrência estrangeira, ex­ceto se dispuserem de grandes barrei­ras protetoras.

O governo tem elevado a proteção a alguns setores, como se isso fosse parte de uma política industrial. Nesta altura, isso é principalmente um equívoco e um sinal enganador envia­do aos empresários e à opinião públi­ca. Preparar o País para jogar na divi­são principal é a única forma de levar o País a um crescimento seguro e de justificar a permanência da letra B na sigla dos Brics.

O governo continua longe de cum­prir essa tarefa, apesar das promes­sas. Nem o corte do juro básico, pro­clamado como realização das mais importantes, contribuiu de forma sig­nificativa para a elevação do investi­mento. Os empresários ainda apon­tam o custo dos financiamentos e a dificuldade de acesso ao crédito co­mo grandes obstáculos.

Os industriais haviam planejado fi­nanciar seus projetos em 2012 com 52,9% de recursos próprios, em mé­dia, e 29,3% de empréstimos de ban­cos oficiais de desenvolvimento. O resto viria de outras fontes. Só conse­guiram, no entanto, 18% de institui­ções como o BNDES e os bancos re­gionais. Tiveram de financiar 65,8% dos planos com dinheiro próprio. Mesmo os bancos comerciais públi­cos, como o Banco do Brasil e a Cai­xa, contribuíram com menos do quê havia sido previsto nas projeções das empresas (6,6% em vez de 7%). Não deveria haver surpresa. Afinal, o BNDES continua financiando princi­palmente grandes empresas - algumas estatais - selecionadas como favoritas. O critério é um tanto miste­rioso, exceto por um ponto. Não é, certamente, o da ampla promoção de oportunidades de crescimento.