Título: Renan simboliza volta dos coronéis, dizem rivais
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2013, Nacional, p. A9

Grupo de senadores divulga manifesto no qual compara a provável eleição do alagoano aos tempos do mandonismo da Primeira República

Um grupo de senadores que se apresentam como indepen­dentes afirmou em manifesto divulgado ontem que a volta do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), à presidência da Casa, pode ser comparada aos tempos do mandonismo dos "coronéis do interior" na épo­ca da Primeira República (1889-1930). "Voltaremos (do recesso parlamentar) apenas para ratificar o nome, nomea­do sem apresentar qualquer proposta que mude o nosso funcionamento. Votaremos como os eleitores que iam às umas na Primeira República, levando a cédula sem conhe­cer o nome do candidato escri­to nela pelos antigos coronéis de interior", diz o documento.

Subscrito por cerca de dez par­lamentares, entre os quais Cristovam Buarque (PDT-DF), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pe­dro Simon (PMDB-RS) e Pedro Taques (PDT-MT), o texto tem como título "Uma nova presi­dência e um novo rumo para o Senado". Coordenado por Cristovam Buarque, ele apresenta uma plataforma com propostas para modificação no funciona­mento administrativo e legislati­vo da Casa.

Nos últimos anos, o Senado foi abalado por sucessivas crises, como a da saída, em 2007, do pró­prio Renan Calheiros da presi­dência após responder a proces­so no Conselho de Ética sob a acusação de ter a pensão de uma filha fora do casamento paga por uma empreiteira. Outra foi a dos atos secretos, revelado pelo Es­tado em 2009, que quase levou à queda do atual presidente, sena­dor José Sarney (PMDB-AP).

No manifesto, os senadores fa­zem um mea-culpa. "A perda de credibilidade da Casa é conse­quência de nosso comportamen­to e nossa ineficiência". E continuam: "Nos últimos anos o Sena­do tem acumulado posiciona­mentos que desgastaram sua imagem perante o povo brasilei­ro, especialmente pela falta de transparência, pela edição de atos secretos, pela não punição exemplar de desvios éticos e pe­la perda da capacidade de agir com independência".

Os parlamentares lembram que os últimos dias de 2012 mos­traram "claros exemplos" da inoperância da Casa, quando se sou­be que havia 3.060 vetos presi­denciais pendentes de apreciação há quase duas décadas, que o Congresso não aprovou o Orça­mento de 2013 e que tampouco votou, mesmo com prazo de três anos dado pelo Supremo Tribu­nal Federal (STF), novas regras para o rateio de recursos do Fun­do de Participação dos Estados.

Entre as 17 propostas de mu­dança sugeridas estão a limpeza da pauta de votações, com a apre­ciação dos vetos presidenciais e adoção de novas regras para dis­tribuição do FPE, o fim das vota­ções simbólicas nas comissões e no plenário, a diminuição do nú­mero de comissões temáticas e a criação de um comitê composto por senadores para acompanhar os gastos da Casa.

O senador Cristovam Buar­que disse ter enviado o documen­to aos gabinetes de mais de 30 parlamentares, menos ao de Re­nan Calheiros. "Vou esperar ele mandar para mim. Se não man­dar, eu mandarei a nossa plata­forma", avisou.