Título: Aécio vai usar choque de gestão como bandeira
Autor: Portela, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2013, Nacional, p. A4

Tucano exaltou modelo de administração implantado há 10 anos no governo de Minas; experiência, porém, também é alvo de críticas

A eficiência na gestão pública é um dos pilares do discurso que o senador Aécio Neves (PSDB- MG) pretende apresentar numa eventual campanha presiden­cial em 2014. Dez anos depois de implantar o chamado choque de gestão ao assumir o governo de Minas Gerais, em 2003, a expres­são virou uma espécie de marca tucana vinculada principalmen­te ao senador.

Nos últimos dias, Aécio e tuca­nos mineiros exaltaram o mode­lo de administração elaborado pe­la Escola de Governo da Funda­ção João Pinheiro (FJP) a partir de premissas de gestão empresa­rial. O choque de gestão, no entan­to, é alvo de críticas como o uso de "manobras contábeis" para chegar aos resultados desejados.

Segundo o governo mineiro, o modelo tem como foco o equilí­brio das contas e a reorganização da estrutura do Executivo para otimizar investimentos e resulta­dos. "A receita, hoje, é suficiente para pagar todos os compromis­sos", destaca a secretária de Pla­nejamento e Gestão de Minas, Re­nata Vilhena, uma das responsá­veis pela implantação do choque de gestão desde seu estágio em­brionário ao lado do hoje governa­dor Antonio Anastasia (PSDB).

Ela cita como exemplo, além do saneamento das contas públi­cas, a atração de mais de R$ 17 bilhões em investimentos priva­dos no Estado em 2012 e o aval do governo federal para a capta­ção de novos empréstimos para investimentos. A dívida consoli­dada do Estado, de 234% da recei­ta corrente líquida, no início de 2002, foi reduzida para 173% no 2.º quadrimestre do ano passado.

Segundo a secretária, o cho­que de gestão "não é só uma ques­tão econômico-financeira", e um dos pontos centrais do mode­lo é a definição e cobrança de me­tas em cada área sob responsabi­lidade do governo, com monito­ramento constante dos resulta­dos - o que levará a uma "mudan­ça de cultura" do funcionalismo, com foco na meritocracia. Em sua terceira etapa, o modelo pre­vê prioridade na redução de dife­renças regionais.

Críticas. Mas, para o economista professor da Escola do Legisla­tivo e ex-secretário adjunto da Fazenda de Minas, Fabrício Mar­ques de Oliveira, o governo mi­neiro usa diversas "manobras contábeis" para maquiar os da­dos e dar uma aparência de que o choque de gestão conseguiu sa­near as contas públicas.

"O governo usa um conceito or­çamentário que não tem muito significado econômico. Nesse conceito se inclui até novas dívi­das como receitas. As contas públi­cas são irreais", disse. "Sem essas operações de crédito, os superávits se transformam em déficits."

Oliveira reconhece melhora nas contas mineiras, mas ressal­ta que tanto Aécio quanto o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram beneficiados pelo crescimento da economia mun­dial no período. "Em Minas, usam a mesma maquiagem que (os tucanos) criticam o governo federal de usar para atingir o su­perávit primário."

Aécio, que ataca com frequên­cia o que chama de "aparelhamento" da máquina pública fede­ral pelas administrações petistas, já adiantou que a discussão sobre uma gestão pública eficien­te será uma das "grandes ques­tões" que vão nortear o discurso da oposição na corrida presiden­cial do ano que vem.

Quando ainda estava à frente da Casa Civil, a então ministra Dilma Rousseff classificou o cho­que de gestão de "conceito propagandístico" e afirmou que uma gestão não se muda com "choque". Na campanha pela Prefeitura de São Paulo, no ano passado, Lula usou o termo para ironizar o discurso do PSDB.

"É uma palavra muito usada pelos tucanos. Eu nem entedia que diabo era isso. Apareceu o choque de gestão, eu disse: puxa vida, vai voltar a tortura no Bra­sil com choque?", disse em comí­cio de Fernando Haddad (PT), em setembro.