Título: Pragmatismo político une Alckmin e Haddad
Autor: Duailibi, Julia
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2013, Nacional, p. A7

Governador quer viabilizar implementação de políticas públicas na capital, que PT pretende exibir como sua vitrine administrativa

Numa ação de pragmatismo político, o tucano Geraldo Alckmin e o petista Fernando Haddad deflagram nesta sema­na o primeiro passo para forta­lecerem as parcerias entre o go­verno de São Paulo e a Prefeitu­ra. O pano de fundo é a eleição de 2014, quando PT e PSDB vol­tarão a se enfrentar na disputa pelo comando do Estado.

Tanto Alckmin quanto Had­dad querem colher frutos políti­cos de uma bem-sucedida alian­ça administrativa. O PT nacional quer fazer de São Paulo "a" vitri­ne administrativa e, para isso, de­positará recursos dos ministé­rios na cidade - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conside­ra a derrota dos tucanos no Esta­do a grande tarefa de 2014. Por outro lado, o governo de Haddad precisa de recursos para bancar promessas de campanha, como o Bilhete Único, o fim da taxa de inspeção veicular e a construção de 172 creches. A orientação é correr atrás do dinheiro.

Cientes de que o PT vai querer mostrar a capital como exemplo de administração do partido em 2014, quando Alckmin tentará se reeleger, os tucanos querem colo­car "o pé na porta" e fortalecer o discurso de que viabilizaram a implementação das políticas públi­cas no maior e mais importante colégio eleitoral do Estado. Também exibirão as parcerias como cartão de visitas na eleição.

A ação política atual diverge da do passado recente. Na gestão de Marta Suplicy (PT) na Prefeitura (2001-2004), que coincidiu com a de Alckmin no governo do Esta­do, as parcerias patinaram. Os ca­sos mais emblemáticos foram o Bilhete Único - criado em 2004 pela Prefeitura, só foi integrado com o Metrô, do Estado, na ges­tão municipal seguinte, do tuca­no José Serra - e a operação urba­na no Largo da Batata, em 2003, quando Estado e Prefeitura não se entenderam para chegar a pro­grama de investimentos.

Contatos. A parceria entre go­verno do Estado e Prefeitura pas­sou a ser esboçada depois que se­cretários de Haddad começaram a procurar empresas estaduais. Alckmin procurou o prefeito e re­solveram dar formato institucio­nal aos contatos, além de criar a agenda comum, que passou a ser trabalhada pelos secretários es­tadual da Casa Civil, Edson Apa­recido, e municipal de Governo, Antonio Donato.

Hoje os dois se encontram no­vamente para traçar as linhas ge­rais do anúncio que Alckmin e Haddad farão amanhã. A ideia é chegar a um número final de in­vestimentos e repasses do gover­no do Estado para a cidade - se­cretários dos dois lados tiveram reuniões para fechar a agenda comum. Em algumas áreas a Prefei­tura quer recursos do Estado, co­mo na construção de creches. Há também temas delicados, que ainda não estão na agenda ofi­cial: ação na cracolândia e inte­gração do Bilhete Único Mensal.

No último ano, foram firma­dos 623 convênios entre Estado e Prefeitura, somando mais de R$ 1 bilhão - em 2012, a cidade era administrada por Gilberto Kassab (PSD), adversário político de Alckmin e hoje aliado do PT.

Discurso. "Você não vai me ver um único dia da minha adminis­tração fazendo tipo para fazer parceria com o governo do Esta­do porque é do PSDB", disse Had­dad na semana passada. Na pos­se do prefeito, Alckmin adotou discurso semelhante: "Saiba, prefeito, que poderá sempre con­tar com apoio do governo do Es­tado naquilo que for de interesse de São Paulo, que não conhece interesses de partidos".

Na semana passada, Lula reu­niu-se com Haddad e defendeu as parcerias com o Estado. Para os tucanos, o petista quis surfar politicamente num tema que já estava bem encaminhado entre os dois governos. Em 2011, Dilma e Alckmin fecharam algumas parcerias administrativas. A aliança levantou críticas de tuca­nos e petistas, que temiam o im­pacto eleitoral da ação conjunta.