Título: Número de mortes na Argélia deve ser maior
Autor: Sant"Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2013, Internacional, p. A9

Cifra de 23 reféns e 32 sequestradores mortos em refinaria será provavelmente "revista para cima" depois que militares terminarem de vasculhar usina de gás

Um dia depois de encerrada a sangrenta ação de resgate no complexo de gás de In Ame­nas, perto da fronteira entre a Argélia e a Líbia, ainda não ha­via ontem à noite um número total de mortos - e suas nacio­nalidades. De acordo com o Exército argelino, ao menos 23 reféns e 32 sequestradores foram mortos, mas o ministro das Comunicações da Argélia, Mohamed Said, declarou que "teme fortemente que o núme­ro será revisto para cima".

Militares argelinos ainda vas­culhavam o complexo ontem, em busca de corpos. O detalha­mento da cifra mortes por nacionalidade tem vindo da parte das empresas e dos países que tinham trabalhadores no local - e estão desaparecidos. A construtora japonesa JGC, por exemplo, informou que não havia notícia sobre o paradeiro de 17 de seus funcionários - 10 japoneses e 7 de outros países. De acordo com o governo da Malásia, havia 5 cidadãos do país trabalhando para a JGG no complexo, dos quais 3 sobreviveram e 2 estão desaparecidos.

Já o primeiro-ministro da Grã- Bretanha, David Cameron, disse que 7 cidadãos do país podem ter morrido no episódio. A morte de apenas um deles foi confirmada até ontem. A companhia de pe­tróleo norueguesa Statoil anun­ciou que o paradeiro de 5 de seus empregados era desconhecido. Havia ainda americanos, france­ses, romenos e um austríaco den­tre os cerca de 100 estrangeiros no complexo, tomado por com­batentes islâmicos na madruga­da de quarta-feira. Outros 550 eram trabalhadores argelinos, mas a maioria escapou. Segundo um funcionário argelino, os se­questradores disseram que os re­féns muçulmanos não tinham na­da a temer - pois estavam inte­ressados nos "cristãos e infiéis".

O grupo responsável pelo se­qüestro é liderado pelo argelino Mokhtar Belmokhtar, que se reti­rou recentemente da Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) pa­ra criar sua própria "franquia", juntamente com outro argelino, Abu Zeid. Eles têm base no norte do Mali e a ação foi uma retalia­ção contra a cooperação da Argé­lia, que abriu seu espaço aéreo para a passagem dos aviões fran­ceses que atacam posições dos combatentes islâmicos em terri­tório malinês.

Ironicamente, Belmokhtar é considerado mais pragmático que Abu Zeid, que em 2010 deca­pitou um britânico e executou um francês depois de uma frus­trada tentativa de resgate dos re­féns, que deixou 6 militantes da AQMI mortos. Belmokhtar cos­tuma preferir dinheiro a sacrifi­car suas vítimas - e estima-se que ele obtenha US$ 3 milhões por refém ocidental.

A AQMI é um dos grupos radi­cais islâmicos que ocupam o nor­te do Mali desde o início do ano passado, ao lado do Ansar Dine, seu aliado, e do Movimento pela Unidade e Jihad na África Oci­dental (Mujao). A tomada do território, que se estende por 840 mil km2, ou dois terços do país, teve a participação também do Movimento Nacional de Liberta­ção do Azawad (MNLA), com­posto por tuaregues vindos da Lí­bia depois da queda de Muamar Kadafi, que os patrocinava. Mas o MNLA, de orientação laica, rompeu com os combatentes is­lâmicos em razão de seu plano de implementar uma república islâmica em todo o Mali.

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