Título: A telefonia ignora os clientes
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2013, Notas e informações, p. A3

O Brasil dispõe de um dos maiores sistemas de telecomunicações do mundo, disputado por gigantescas empresas internacionais e brasileiras, além de um conjunto de órgãos reguladores conhecidos, mas nem assim os consumidores são bem atendidos.

Na última quarta-feira, um colapso na rede de telefonia ce­lular da espanhola Vivo deixou dezenas de milhões de usuá­rios desatendidos por cinco ho­ras, como admitiu a empresa, ou ainda mais tempo, segundo alguns clientes. No mesmo dia, a Secretaria Nacional de Infor­mações de Defesa do Consumi­dor (Sindec), do Ministério da Justiça, divulgou levantamento mostrando que os serviços de telefonia celular lideraram, no ano passado, as reclamações dirigidas ao órgão.

"Enquanto não doer no bol­so, as empresas vão continuar atendendo mal", resumiu a coordenadora institucional da associação de consumidores Proteste, Maria Inês Dolcci.

Em julho do ano passado, a Agência Nacional de Telecomu­nicações (Anatel), órgão que re­gula o setor, proibiu três das principais operadoras de telefo­nia celular do País - Oi, TIM e Claro - de vender serviços de internet e telefonia móvel em inúmeros Estados, devido à má qualidade dos serviços, inter­rupções constantes nas liga­ções e número crescente de re­clamações dos clientes. Em 2009, a Vivo foi proibida de co­mercializar alguns planos devi­do à deficiência dos serviços de banda larga.

Mas não há melhora nos ser­viços - as reclamações contra as empresas, em geral, aumen­taram 19,7%, entre 2011 e 2012, e a participação das companhias de telecomunicações foi crescente. Em 2011, essas em­presas responderam por 17,46% das reclamações dirigi­das à Sindec e, em 2012, por 21,7%. Entre as 10 empresas que mais sofreram reclama­ções no ano passado estão 5 companhias de telecomunica­ções (Oi, Claro/Embratel, Vivo/ Telefônica, Sky e TIM/Intelig). A primeira da lista foi objeto de mais de 120 mil reclamações.

Serviços eficientes de teleco­municações são essenciais para a atividade econômica e vitais para empresas e famílias, que dependem da internet.

As explicações formais forne­cidas pela Vivo para 30 milhões de clientes sobre o colapso re­gistrado na quarta-feira, dia 16, nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Gran­de do Sul não foram satisfató­rias nem tampouco a informa­ção de que os afetados pela pa­ne serão ressarcidos, pois os prejuízos não se limitam à indisponibilidade das linhas.

Um diretor da empresa, Leo­nardo Capdeville, admitiu ao Estado que houve "um erro operacional", explicando: "Um novo equipamento instalado na rede IP (responsável pela comu­nicação interna entre todos os equipamentos) foi mal configu­rado". O presidente da Telefôni­ca, que controla a Vivo, Antonio Carlos Valente, disse que "os sistemas de recarga e checagem de saldos também ficaram com­prometidos". A Anatel não ha­via distribuído qualquer infor­mação sobre a ocorrência nem anunciado eventuais punições.

As companhias de telecomu­nicações incluem-se entre as de maior valor de mercado e obtêm expressivos lucros, mas, apesar das promessas de vulto­sos investimentos, estes ainda são insuficientes para assegu­rar serviços de elevada qualida­de. Um dos pontos fracos está na deficiência das antenas transmissoras, cuja capacidade foi estimada, no ano passado, em dez vezes inferior à das an­tenas instaladas nos Estados Unidos.

O Brasil tem mais de 260 mi­lhões de telefones celulares, ou mais de 132 aparelhos por gru­po de 100 pessoas. Os planos de baixo custo para ligações en­tre celulares da mesma conces­sionária estimularam as pes­soas a ter mais de um número, tornando-se clientes de dife­rentes operadoras e sobrecarregando as redes. Há ainda 44 mi­lhões de telefones fixos instala­dos, mas apenas cerca de 30 mi­lhões estão em uso.

À luz das reclamações recebi­das pelos Procons e pela Sindec e do acompanhamento direto a que está obrigada, a agência re­guladora dispõe de todas as in­formações de que necessita pa­ra agir, tempestivamente, con­tra as empresas. Se não o faz, ca­be à Anatel dar explicações.