Título: Assessores diretos de Lula afirmam que Dilma será candidata à reeleição
Autor: Gallo, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2013, Nacional, p. A4

Auxiliares próximos de Luiz Inácio Lula da Silva afirmaram ontem publicamente que o ex-presidente não será candidato ao Planalto em 2014 e apoiará a reeleição de Dilma Rousseíf. Se­gundo eles, o líder petista tam­bém descarta concorrer ao go­verno paulista. Em encontro realizado com ministros de Dil­ma e ex-ministros de seu gover­no, além de intelectuais, Lula disse que quer "ser ex-presiden­te sem se meter no exercício de quem exerce a Presidência".

Nas últimas semanas, o petista - que no ano passado recebeu o diagnóstico de cura do câncer que o acometeu - começou a se movi­mentar mais politicamente. Na se­mana passada, reuniu-se com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e seu secretariado para dar orientações. Também combi­nou de se encontrar com Dilma.

A movimentação de Lula, alia­da ao anúncio feito pelo ex-presi­dente no final do ano passado de que voltaria a percorrer o Brasil em 2013, suscitou dúvidas no meio político quanto à sua dispo­sição de se manter distante da dis­puta eleitoral de 2014. A isso se soma a tese repetida por petistas, desde que Lula deixou o cargo, de que o ex-presidente voltaria caso a crise econômica atingisse o País e fizesse despencar a popularida­de de Dilma, sua afilhada política.

"Nossa candidata". "A nossa candidata em 2014 se chama Dil­ma Rousseíf. Essa é a nossa candi­data em 2014", afirmou o presi­dente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que participou da reu­nião promovida pela entidade em São Paulo. "Vamos trabalhar para a sua reeleição para que a gente continue fazendo esse governo extraordinário, que tem dificulda­de, mas pode fazer muita coisa ainda pelo Brasil", completou.

Luiz Dulci, que chefiou a Secretaria-Geral da Presidência duran­te o governo Lula e hoje também pilota o Instituto, fez coro a Oka­motto. "Sou auxiliar, mas não sou porta-voz e muito menos porta-sentimentos, mas o presiden­te Lula já se manifestou claramen­te sobre isso dizendo que a candi­data dele é a presidente Dilma Rousseíf", disse Dulci, responsá­vel por escrever discursos de Lu­la no primeiro mandato. "Claro que cada comentarista tem liber­dade pra supor o que quiser, mas a manifestação do presidente foi clara, de que a candidata dele é a presidente Dilma."

Auxiliar há 32 anos do ex-presi­dente e ex-ministro dos Direitos Humano, Paulo Vanucchi - outro integrante do Instituto Lula - foi além. Segundo ele, Lula não quer ser candidato nem em 2018, quan­do Dilma não poderá se reeleger. "Ele não é candidato em 2014 está fora de questão. Não tem isso, esva­ziem essa pauta. Se os editores apertarem vocês, peçam para os editores saírem da redação e andarem um pouco mais. Não vou discutir nem 2014. Voufalar de 18. O Lula não quer ser presidente em 2018".

Vanucchi afirmou que uma candidatura em 2018 seria possí­vel apenas em uma situação ex­trema. "A chance maior do Lula é não ser mais candidato a presidente da República, é trabalhar para não ser mais. Não digo que não será em hipótese alguma em 2018 porque se houver um acirra­mento das contradições, se hou­ver crise nacional e ele despon­tar como um polo de consenso para reaglutinar as forças do País, aí ele se dispõe", afirmou.

Ele afirmou ainda que chegou a tentar conversar com o ex-pre­sidente sobre a possibilidade de ele ser candidato ao governo de São Paulo logo após uma entre­vista em que o marqueteiro petis­ta, João Santana, defendeu a te­se. Segundo Vanucchi, Lula re­chaçou de pronto a ideia. "Ele não quer, também não é candida­to a governador", garantiu. "Ele proibiu qualquer de nós a tocar no assunto de novo. Eu calei a minha boca. Ele disse: "proíbo vo­cês, tá fora de cogitação, não tá nos meus planos". Nem quis dar argumentos."

Lula não deu entrevistas on­tem. Aos intelectuais, tratou de assuntos da América Latina. Na abertura, porém, falou sobre sua atual situação política. "É um de­safio extraordinário aprender a ser ex-presidente da República", disse. "Eu tinha um pacto comi­go mesmo de que era preciso mostrar que era possível ser um ex-presidente sem se meter no exercício de quem estava exer­cendo a Presidência", prosseguiu Lula. "Mesmo quando essa pessoa que está exercendo a Pre­sidência seja uma ex-ministra minha, uma companheira da mais extraordinária confiança", concluiu, referindo-se a Dilma.

O ministro Celso Amorim, da Defesa, e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Gar­cia, auxiliares de Lula que perma­neceram no governo de sua suces­sora, participaram do encontro.