Título: Absolvido no mensalão, ex-ministro é denunciado por desvio em Minas
Autor: Recondo, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2013, Nacional, p. A6

Promotoria acusa Anderson Adauto de uso indevido de R$ 1,1 milhão na prefeitura de Uberaba, que deixou em janeiro

Menos de três meses depois de ser absolvido pelo Supremo Tri­bunal Federal no mensalão, o ex- ministro dos Transportes Ander­son Adauto (sem partido) foi de­nunciado à Justiça pelo Ministé­rio Público Estadual de Minas Gerais acusado de desviar R$ 1,1 milhão da prefeitura de Ubera­ba, no Triângulo Mineiro.

A Justiça acatou na última sex­ta-feira a acusação formal, que resultou no processo que trami­ta na 1ª Vara Criminal de Ubera­ba. Além de Adauto, foram de­nunciados o ex-procurador-geral do município, Valdir Dias, e os empresários José Luís Guima­rães do Amaral e Eliane do Ama­ral Marcondes de Souza, proprie­tários da AMS Construções e In­corporações Ltda., acusados de envolvimento no desvio. Em 2008, a empresa foi uma das doadoras da campanha vitoriosa de Adauto à reeleição.

De acordo com a denúncia do promotor José Carlos Fernandes Júnior, o desvio ocorreu entre agosto de 2008 e setembro de 2009, durante a construção do Centro Municipal Avançado de Ensino do Bairro Boa Vista. A AMS venceu licitação promovida em 2006 para realizar a obra, ao custo de R$ 3,3 milhões. A obra foi suspensa pela Secretaria Municipal de Infraestratura em novembro daquele ano. Os trabalhos seriam reiniciados em março de 2007, mas, de acordo com o MP, a paralisação ocorreu para que os recursos fossem desviados. O inquérito instaurado para investigar o caso mostrou que, ao retomar os trabalhos em dezembro de 2007, a empresa pediu reajuste no valor do contrato.

Mesmo com pareceres técni­cos contrários, Valdir Dias foi fa­vorável ao reajuste e o prefeito de­terminou o aditamento do con­trato acima dos índices oficiais de inflação e o pagamento de lucros cessantes. Em agosto de 2008 foi assinado novo aditi­vo, que foi divulgado apenas em maio do ano seguinte, após o pagamento, de acordo com o MPE, dos "recursos indevi­dos". Para o Ministério Públi­co, a demora na divulgação do aditivo teve o objetivo de "difi­cultar a percepção do desvio de receitas públicas promovi­do em favor da empresa".

Condenação. Absolvido no mensalão, Adauto tem outros problemas com a Justiça. O ex-ministro foi condenado em 1ª instância por fraude em con­curso público para a contrata­ção de agentes de Saúde, deci­são que suspendeu seus direi­tos políticos. Ele também res­ponde a outras ações de impro­bidade administrativa e ainda é alvo de investigação da Polí­cia Federal pela suspeita de fraudar licitação de R$ 20 mi­lhões para a compra de medi­camentos e equipamento.

O Estado não conseguiu contato ontem com Adauto, que ainda não nomeou advo­gado para atuar no processo relativo à denúncia mais re­cente, assim como com os de­mais acusados.