Título: Crise global já deixou 67 milhões sem trabalho
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2013, Economia, p. B6

Além destes, 37 milhões deixaram de buscar um emprego; medidas de austeridade ajudaram a aprofundar a recessão

Genebra

A crise econômica mundial e as medidas de austeridade aplicadas por governos já fizeram 67 milhões de vítimas no mercado de trabalho. Mas, se não bastasse o impacto social dos últimos cinco anos e o fato de que os mais afetados foram trabalhadores dos países ricos, as previsões são de que as demissões não perderão força até 2017 e, dessa vez, atingirão os países emergentes.

O alerta é da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que, em seu informe anual, aponta que, comparado com 2007,28 milhões de pessoas mais estão desempregadas no mundo. Essa é apenas parte da história. Outras 39 milhões simplesmente se cansaram de buscar um emprego e abandonaram o mercado de trabalho nos últimos cinco anos.

"O drama que se vive é de proporções enormes, e esses números representam um risco real para a desestabilização social", alertou Guy Ryder, diretor-geral da OIT. "As taxas que estamos vendo são inaceitáveis", declarou.

Uma certa redução do desemprego ocorreu em 2011. Mas, com a retomada da crise em 2012 na Europa e a volta da recessão em muitas economias, mais 4,2 milhões perderam seus empregos. O número total chegou a 197 milhões de pessoas pelo mundo, 5,9% da mão de obra global. "A desaceleração na economia global foi significativa, e isso teve um impacto severo no mercado de trabalho", disse Ryder.

O que mais preocupa a OIT é que, até 2017, a situação não ficará melhor. A previsão é de que, em cinco anos, mais de 10 milhões de pessoas extras perderão o emprego em todo o mundo. No total, a década entre 2007 e 2017 verá uma acumulação de 41 milhões de pessoas a mais sem trabalho no mundo.

Em 2013, serão 5,1 milhões de demissões, além de outras 3 milhões em 2014. Em 2017, o total de desempregados no mundo será de 210 milhões. "Estamos caminhando na direção errada", disse Ryder.

Em 2012, 25% das demissões ocorreram nos países ricos. Na primeira fase da crise, entre 2008 e 2010, os países ricos de fato foram os mais atingidos e somaram mais 15,6 milhões de desempregados que o volume registrado antes da crise, em 2007.

Uma certa redução ocorreu em 2011, diante do que parecia ser uma retomada do crescimento mundial. Mas em 2012 a segunda onda da crise desfez os avanços obtidos e, ao final de 2013, a OIT estima que 15,7 milhões estarão desempregados, em comparação com os níveis de 2007.

Austeridade. Ryder fez questão de ressaltar que as políticas de austeridade têm sido as principais responsáveis pela crise. Em sua avaliação, "a dimensão, o ritmo e a intensidade" das políticas de corte de investimentos adotadas por vários governos acabaram incrementando a recessão e, portanto, o desemprego.

Ryder lembrou que o próprio FMI admitiu ter errado na dose do remédio. "Mas agora o desafio é o de convencer governos a mudar de rumo", declarou.

O impacto das políticas de austeridade.entre os jovens preocupa a OIT. Hoje, são 74 milhões sem emprego, 12,6% do total. Nos países ricos, um a cada três jovens não tem trabalho e 35% já não encontram nada há mais de um ano. "O risco é de que o desemprego se transforme em algo estrutural", alertou Ryder./ J.C.