Título: O custo do gás natural
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2013, Notas e informações, p. A3

O Brasil nunca precisou tanto de gás natural. Com a situação crítica dos reservatórios das hidrelétricas em todas as regiões do País, a saída para evitar o racionamento tem sido o uso intenso da energia gerada por termoelétricas movidas a gás natural, a diesel ou a óleo combustível. Ocorre que, com o rigoroso inverno no Hemisfério Norte e altas temperaturas registradas no Brasil e outros países tropicais, o consumo de gás natural vem em constante crescimento, pressionando os preços, especialmente no mercado spot, que a Petrobrás utiliza para adquirir gás natural liquefeito (GNL). O produto está cotado hoje em US$ 18 por milhão de BTUs (unidade térmica de referência), enquanto a Petrobrás, por contratos firmados de 2006 a 2008, vende a US$ 12 por milhão de BTUs às usinas térmicas, o que ocasiona à estatal um prejuízo de US$ 6 por milhão de BTUs, segundo os cálculos da consultoria Gas Energy (Estado, 10/1). Isso representa um prejuízo de cerca de R$ 240 milhões por mês à estatal. A Petrobrás não confirma a estimativa feita pela consultoria, mas não revela quanto gasta com GNL.

O fato é que, com a produção nacional de gás natural estacio­nada em 70 milhões de m3 por dia, as importações do produto tendem a aumentar com a de­manda das hidrelétricas, além do fornecimento à indústria. O País é abastecido pelo gasoduto Bolívia-Brasil e pelo GNL im­portado, que precisa ser reprocessado antes do consumo, o que onera seu custo.

As importações de gasolina foram recordes em 2012, tendo custado US$ 2,851 bilhões de ja­neiro a novembro, 125,89% a mais que no mesmo período de 2011, segundo a Secex. Verifica-se, no entanto, que o País des­pende ainda mais na importa­ção de gás natural, que custou US$ 3,006 bilhões em 11 meses de 2012. Além disso, a estatal te­rá de importar mais diesel e óleo combustível ou reduzir as suas exportações desses produ­tos. No período janeiro-novembro de 2012, a Petrobrás impor­tou óleos combustíveis (diesel, "fuel oil", etc.), no valor de US$ 6,44 bilhões e exportou US$ 4,62 bilhões, deixando esse item um saldo negativo de US$ 1,82 bilhão, o que também tende a crescer.

Se não se espera que a deman­da arrefeça nos próximos me­ses na Europa e nos EUA, ela não deverá cair também no Bra­sil. Isso porque o Operador Nacional do Sistema (ONS) pre­tende manter as térmicas em operação até os reservatórios se encherem, de modo a permitir que na estação da seca fiquem com 68% de sua capacidade.

Ainda que chova substancial­mente, neste e nos próximos meses, a demanda de GNL con­tinuará grande porque o gover­no decidiu que as primeiras termoelétricas a serem desligadas serão aquelas acionadas a die­sel e óleo combustível, ou seja, as mais poluentes. As usinas movidas a gás natural permane­cerão em operação por tempo indeterminado.

O aumento da demanda por gás já causa certa apreensão en­tre os empresários. A Federa­ção das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro chegou a en­viar comunicado a seus asso­ciados os alertando quanto ao risco de desabastecimento de gás natural e de energia elétri­ca no início de 2013, temendo que a Petrobrás transfira o gás natural importado para as termoelétricas, em detrimento da indústria. Essa hipótese está afastada, segundo declarações do ministro de Minas e Ener­gia, Edison Lobão.

Marco Tavares, da Gas Energy, comentou que a Petro­brás estaria encontrando difi­culdades para comprar cargas de GNL em um período em que a demanda está muito aqueci­da. Não tendo firmado contra­tos a mais longo prazo para aquisição de gás natural, a esta­tal está sujeita às incertezas e à volatilidade do mercado spot, disse ele. Noticiário mais recen­te da Reuters, porém, dá conta de que houve uma alta significa­tiva de preços, devida principal­mente à acumulação de esto­ques, mas não se espera que ha­ja redução de oferta no merca­do internacional.

Seja como for, a importação de derivados de petróleo para abastecer as termoelétricas se­rá também um fator de forte pressão sobre a balança comercial em 2013 - e sobre os resulta­dos da Petrobrás, que têm sido muito ruins.