Título: Projeção de endividamento põe nota da Petrobrás sob risco de rebaixamento
Autor: Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2013, Economia, p. B1

A luz amarela sobre o endivida­mento da Petrobrás foi acesa dentro da empresa, jogando mais pressão por um aumento de combustíveis antes da di­vulgação dos resultados do quarto trimestre. Segundo fontes da companhia, a estatal ultrapassou a barreira que é usada como referência por agências de classificação de risco - nível de alavancagem de 2,5 vezes a relação entre dí­vida liquida sobre a geração de caixa medida pelo Ebitda (si­gla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, deprecia­ção e amortização).

A partir desse patamar de 2,5 vezes, a petroleira passa a convi­ver com o risco de ter sua nota rebaixada pelas agências interna­cionais, o que deixaria emprésti­mos mais caros, forçaria a venda de ações e limitaria a capacidade de investimento da empresa, com reflexos negativos para to­da a cadeia de fornecedores.

Projeções internas dão conta de que, em parte do quarto tri­mestre, esse limite teria ultrapas­sado a relação de 2,6 vezes. A luz vermelha acende ao redor do 3. No mês passado, a agência Moody"s já colocou a Petrobrás sob perspectiva de um possível rebaixamento da nota da dívida, o primeiro sinal negativo vindo do mercado.

A projeção interna acima de 2,6 vezes era parcial, pois o resul­tado do quarto trimestre não es­tava fechado - a apresentação dos resultados ocorrerá no próxi­mo dia 4 de fevereiro. Espera-se que o reajuste do diesel e da gaso­lina saia até esta data.

Dessa forma, a empresa divul­garia ao mercado a má notícia (o rompimento do nível de 2,5 ve­zes) já com um alívio (o aumen­to) para o caixa.

"O rebaixamento não é automático, e ninguém o faria em véspera de reajuste. Mas é uma ameaça que ronda a Petrobrás", disse o analista de petróleo da BES Securities do Brasil, Oswaldo Telles Filho.

O possível reajuste, estimado em 7% para a gasolina e até 5% para o diesel, no entanto, não seria suficiente para deixar a companhia em níveis confortáveis, apenas amenizaria a piora na relação de endividamento. "Ajuda a não piorar, mas não resolve", diz uma fonte da companhia. Na área de captação há grande preocupação com o indicador.

A Petrobrás ganhou em 2007 grau de investimento, classifica­ção que lhe permite melhores condições para se financiar no mercado internacional.

Em 2009, mudou o patamar da dívida, com alta de US$ 25 bi­lhões, e desde então há piora.

Relação. No terceiro trimestre, a relação dívida líquida/Ebitda fi­cou em 2,42 vezes, bem acima da 1,66 vez do quarto trimestre de 2011. Segundo cálculos do analis­ta Adriano Pires, do Centro Bra­sileiro de Infraestrutura (CBIE), um aumento de 7% para a gasoli­na e 5% para o diesel reduziria a relação entre 0,05 e 0,07 ponto.

Ou seja, mesmo com o aumen­to nos combustíveis a Petrobrás ainda correria o risco de manter o indicador acima de 2,5 vezes. "Seria um descanso, mas estaria longe de resolver o problema da companhia", disse Pires. "Mas a inflação está crescendo a galope, estou descrente quanto a um reajuste neste mês."

O balanço mais recente (3º tri­mestre de 2012) diz que o endivi­damento líquido em reais da Pe­trobrás aumentara 30% em rela­ção ao ano anterior, para R$ 133,9 bilhões, em decorrência de cap­tações de longo prazo e do impac­to de uma depreciação cambial de 8,3%.

Outro analista que prefere o anonimato diz que a petroleira teria caixa próprio para sobrevi­ver por apenas mais um ano: "A evolução da dívida é extremamente preocupante. O governo e o conselho de administração estão apostando em fartura no financiamento, mas isso pode acabar de uma hora para outra".

O mercado aposta em aumen­to de cerca de 7% para a gasolina e até 5% para o diesel, já que essa é a diferença que falta para que seja atendida a previsão do pla­no de negócios da companhia 2012-2016.

O documento previa alta de 15% de forma a viabilizar os US$ 236,4 bilhões em investimentos, e apenas parte foi concedida no ano passado.

Longe das metas

US$ 236,4 bi é o valor do plano de investimentos da Petrobrás para 2012-2106

2,5 vezes é o nível de alavancagem consi­derado suportável na relação dívida líquida e geração de caixa

15% foi o reajuste pedido pela Petrobrás, mas o mercado aposta em alta máxima de 7% no preço dos combustíveis