Título: Uma grande e assustadora interrogação
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2013, Notas e informações, p. A3

O crescimento eco­nômico do Brasil deve ganhar impul­so, atingir 3,4% nes­te ano e cerca de 4% em 2014 e 2015, segundo as novas contas do Banco Mundial divulgadas ontem. A expan­são no ano passado foi estimada em 0,9%, número muito próximo da maior parte dos cálculos correntes no País. A produção global também deve acelerar-se, puxada pelos emer­gentes, mas o ritmo ainda será mui­to contido: 2,4% em 2013 e pouco mais de 3% nos dois anos seguintes. Mesmo essas projeções, nada espeta­culares, estão sujeitas a condições ainda incertas, como a continuidade da recuperação americana e a supe­ração dos riscos mais graves na zona do euro. A evolução da China, com provável declínio da taxa de investi­mento nos próximos anos, poderá afetar principalmente os países emergentes e em desenvolvimento, fornecedores de matérias-primas pa­ra a indústria chinesa. Isso inclui o Brasil, hoje muito dependente do mercado chinês, e boa parte dos lati­no-americanos.

A nova edição de Perspectivas Eco­nômicas Globais, com a atualização das estimativas do Banco Mundial, é parte de uma safra de projeções pe­riodicamente publicadas por institui­ções multilaterais. Na próxima sema­na o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) deverá divulgar mais uma revisão dos números de seu Panora­ma Econômico Mundial.

As projeções têm sido elaboradas com ressalvas muito importantes, principalmente por causa da insegu­rança na União Européia e de riscos como o do abismo fiscal nos Esta­dos Unidos. O perigo de um desas­tre na economia americana foi tem­porariamente afastado, mas o presi­dente Barack Obama ainda precisa negociar medidas importantes, co­mo a elevação, mais uma vez, do te­to da dívida federal.

As perspectivas do Banco Mundial indicam mais um ano de recessão na zona do euro, com redução de 0,1% do produto bruto regional. Para a economia americana foi previsto crescimento de 1,9%, pouco menor que o de 2012 (2,2%), mas com ten­dência de aceleração nos dois anos seguintes. A continuidade da recupe­ração dependerá, em todo o mundo, da consolidação das contas públicas e, em alguns casos, de reformas poli­ticamente difíceis nas áreas traba­lhista e previdenciária.

A recomendação de empenho nas reformas é dirigida também aos paí­ses emergentes e em desenvolvimen­to. De modo geral, esses países con­seguiram sair rapidamente da crise de 2008-2009, mas agora precisam elevar seu potencial de crescimento.

No caso do Brasil, a aceleração em 2013 deverá ser favorecida, segundo o Banco Mundial, pelos estímulos fiscais e monetários adotados nos úl­timos dois anos. Os efeitos dessas medidas, segundo a análise, se mani­festaram apenas parcialmente até agora e continuarão a surgir nos pró­ximos meses. Esse argumento tem sido usado especialmente por diri­gentes do Banco Central (BC).

A médio prazo, no entanto, a con­tinuidade do crescimento depende­rá de ações de maior alcance, segun­do reconhecem os autores do Pano­rama. "Esforços do governo para ele­var a eficiência da economia por meio da redução do Custo Brasil (al­tos custos de insumos e de tributos, burocracia pesada e infraestrutura inadequada) devem sustentar o pro­duto potencial no médio prazo, ape­sar do menor crescimento da força de trabalho", segundo o documento. Os economistas do banco são bem informados sobre alguns dos grandes problemas estruturais do Brasil Mas talvez sejam um tanto otimistas quanto à execução das po­líticas para aumento da produtivida­de nacional é do potencial de cresci­mento.

O governo apenas começou a to­car em alguns daqueles problemas. As concessões e parcerias para a exe ­cução de obras no setor de transpor tes ainda são uma promessa e um bom tempo ainda poderá decorrer até a assinatura dos contratos. A re ­novação de concessões no setor elé­trico inclui a curto prazo a redução de tarifas, mas nada garante,por en­quanto, a realização, num prazo razoável dos investimentos necessá­rios. As mudanças tributárias conti­nuam limitadas e as mais ambicio­sas são ainda remendos.

No Brasil, o médio prazo perm nece uma grande e assustadora interrogação.