Título: PT cobra R$ 1 mil por jantar e cria até conta para pagar multa de condenados
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2013, Nacional, p. A4

Mensalão. Juventude petista do Distrito Federal inicia campanha de arrecadação de fundos para ajudar Dirceu, Genoino, Delúbio Soares e João Paulo, que, juntos, terão de pagar R$ 1,8 milhão por determinação do Supremo, além de cumprir as penas de detenção

Um grupo de militantes do PT de Brasília promove hoje à noite um jantar, numa galeteria da cidade, para arrecadar dinheiro destinado a pagar as multas aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a petistas condenados no processo do mensalão. Os convites custam de R$ 100 a R$ 1.000. A idéia da Juventude do PT, um grupo ligado ao ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares – um dos condenados –, é espalhara iniciativa pelo País. Até o meio-dia de ontem, 11o dos 170 convites já haviam sido vendidos, mas o valor arrecadado não foi revelado. Além do jan-tar, o grupo pede aos que não podem comparecer que depositem doações na conta do PT Plano Piloto identificando os depósitos com R$ 0,47 – em alusão ao número da Ação Penal que condenou os mensaleiros –, por exemplo doando R$ 100,47. A iniciativa beneficia o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e os deputados José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP), condenados a pagar, juntos, R$ 1,8 milhão. Os organizadores divulgaram um texto para promover o jantar. “A Ação Penal 470 resultou, entre outras injustiças co-metidas, em uma multa milionária em desfavor de alguns de nossos principais dirigentes, em especial, José Dirceu e José Genoino”, destacou o texto. “Com a clareza de que o alvo deste julgamento sempre foi o PT e de que é necessário mobilizar a militância para defender o nosso partido, a Juventude do Partido dos Trabalhadores – JPT Brasília – organizou um jantar de arrecadação para ajudar a pagar a dívida dos companheiros, cuja condenação poderá se confirmar.”

A ideia do jantar surgiu em uma conversa entre três membros da juventude do PT em Brasília. “Nós consideramos absolutamente injusto que eles tirem umcentavo do bolso para pagar essas multas. Então fomos estudar o estatuto do PT para ver o que poderia ser feito para arrecadar fundos”, explicou Pedro Henrichs, um dos organizadores.“Vimos que havia a possibilidade de fazermos um jantar e conversamos com a direção do PT local para tocar a ideia.” “A ideia da conta surgiu porque mais de uma pessoa ligou dizendo que não poderia estar em Brasília para o jantar, mas gostaria de contribuir”, explicou Henrichs. “Se conheço o PT isso vai virar uma onda e várias ações vão ser feitas em outros Estados.” A Juventude do PT fez vários contatos com a assessoria de Dirceu, que agradeceu a iniciativa, mas não deve comparecer. Já Genoino não foi encontrado. A proposta não teve apoio de petistas influentes. O deputado distrital do PT Chico Vigilante adiantou que não participará do jantar. “Sou contra. Se me convidarem eu não vou”, disse. “Não posso contribuir pagando uma multa aplicada por um julgamento ilegal. Os esforços devem ser destinados a provar a inocência dos condenados.”

Ausentes.

O governador de Sergipe, Marcelo Deda, e o deputado federal Ricardo Berzoini (SP) alegaram motivos de agenda para não comparecer. “Não estarei em Brasília”, explicou Berzoini. Deda avisou que teria de viajar para São Paulo, para um tratamento médico, mas que contribuirá com a “vaquinha”. E ponderou: “Solidarizar-se com um companheiro que sofreu uma condenação não significa nenhum tipo de adesão a um possível erro que foi cometido”. Alguns diretórios do PT pretendem aguardar a revisão dos valores, já que as defesas dos réus entraram com pedidos para reduzi-los ou até extingui-los. “Os valores são muito altos, com certeza não é apenas com um jantar que se vai conseguir arrecadar esses fundos”, afirma Francisco Rocha, coordenador da Construindo um Novo Brasil. O setorial jurídico do PT-SP aguarda a fase de recursos para realizar outro jantar. No PT, a situação que sensibiliza mais é a do deputado Genoino. Os petistas consideram que ele e o colega de Câmara João Paulo são os que menos recursos têm para pagar as multas. / COLABOROU FERNANDO GALLO