Título: Meta de inflação verdadeira é de 5,5%, afirma Pastore
Autor: Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2013, Economia, p. B4

Consultoria A.C. Pastore diz que opção do governo por inflação mais alta fez crescer probabilidade de o IPCA superar os 6,5%

A meta de inflação no Brasil não é mais de 4,5%, mas de 5,5%. Essa é a conclusão de um trabalho elaborado pela consultoria A.C. Pastore & Associados, do economista e ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore, feito com base nas expectativas do próprio mercado financeiro.

"Como o teto do intervalo contendo a meta continua sendo de 6,5%, a banda para acomodação de choques é de apenas um ponto porcentual para cima da "meta informal" de 5,5%", afirma um trecho do relatório.

O trabalho nota que, nos últimos anos, ocorreram oscilações frequentes da inflação iguais ou maiores do que um ponto porcentual em relação à meta. Por isso, argumenta que "cresceu a probabilidade" de a inflação superar o teto da meta. "Para um Banco Central que vem perdendo credibilidade, esta não é uma boa notícia", diz o texto.

Apesar dessa conclusão, a A.C. Pastore ressalta que "não há, diante dessa sinalização, a acusação de que o Banco Central teria abandonado o controle da inflação". "Mas há uma clara indicação de que as autoridades abandonaram a meta de 4,5%, passando a perseguir uma meta mais elevada."

Para a consultoria, a sugestão dada pela combinação da estabilidade das expectativas de inflação junto com manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 7,25% ao ano por um extenso período é de que o BC "estaria satisfeito" com uma inflação de 5,5%.

O trabalho analisou o período entre o terceiro trimestre de 2000 e o terceiro trimestre de 2012. A conclusão é a de que a meta oficial teria sido abandonada a partir de 2010, último ano de mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A A.C. Pastore aplicou modelos matemáticos sobre as projeções do mercado financeiro encaminhadas ao Banco Central para a elaboração do Relatório Focus, que é divulgado toda segunda-feira e traz as estimativas para diversas variáveis econômicas, entre elas a inflação.

Sem entrar nos meandros técnicos do estudo, o resultado apontou que as contas das projeções "fecham" quando a inflação oficial utilizada no modelo matemático é ajustada para 5,5%, em vez dos 4,5%.

O relatório lembra que a inflação medida pelo IPCA (que baliza o regime de metas do governo) acumula variação de 5,8% nos últimos 12 meses. Observa, ainda, que a taxa anualizada do núcleo (medida que exclui itens mais voláteis, como alimentos e energia) está acima de 6% desde agosto do ano passado.

Mesmo assim, diz o texto, "o BC mantém o discurso de que "estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear"".

Para a consultoria, "há uma enorme distância entre esse discurso e a percepção da sociedade, o que certamente não ajuda na reconstrução da credibilidade (do Banco Central)".

No primeiro ano do governo Dilma Rousseff, o IPCA subiu 6,5%, em cima do teto da meta. No ano passado, a alta foi de 5,84%, superando as expectativas do mercado em razão de variações fortes de preços em novembro e dezembro.