Título: Formação de capital não sente a ação do BNDES
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2013, Economia, p. B2

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, apresentou anteontem os valores desembolsados pela instituição nos últimos anos e que, em 2012, chegaram a R$ 156 bilhões, o que representa um crescimento de 12% em relação a 2011, embora inferior ao registrado em 2010, que foi de R$168,4 bilhões.

O problema é que, quando se cotejam esses desembolsos com os dados das Contas Nacionais sobre a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), o que se depreende é que a atuação do BNDES, realizada a um custo elevado para o Tesouro Nacional - que recorreu ao mercado internacional para captar recursos que o banco repassa às empresas a um custo menor -, não teve nenhum efeito sobre o total de investimentos no País. Isso nos leva a indagar se a atuação do banco não deveria ser reexaminada, já que está longe de contribuir para aumentar a capacidade de produção.

Ao examinar a variação dos investimentos nos últimos anos, constata-se que em 2011 e em 2012 ela ficou muito abaixo da variação dos anos anteriores, com exceção de 2009: em 2005, +3,6%; em 2006, +9,8%; em 2007, +13,9%; em 2008, +13,65; em 2009, -6,7%; e em 2010, +21,3%. Em 2011 a variação foi de apenas 4,7%, enquanto em 2012, considerando a variação apurada no segundo trimestre, mas acumulada em 12 meses, ela ficou negativa em 0,396.

O presidente do BNDES esclareceu que a construção está incluída nos dados da FBCF, mas o banco não atuou nesse setor. Nos últimos anos, a construção representava menos do que os investimentos em máquinas e equipamentos. Levando em conta o dinamismo da construção, seus investimentos devem ter aumentado cerca de 50%, e o BNDES, no ano passado, a financiou com R$ 21,3 bilhões. Podem-se acrescentar os estoques de equipamentos para a produção que entram no cálculo da FBCF. Mesmo assim, a influência do BNDES sobre o volume de investimentos parece anormalmente baixa.

Isso nos leva a pensar que, antes da intervenção do banco de desenvolvimento, a indústria estava recorrendo a outras fontes de financiamento. O valor destes não teve mudança, mas as empresas se aproveitaram de uma forte queda no custo dos financiamentos feitos pelo BNDES para elevar suas margens de lucros.

Parece claro que, ao oferecer essas vantagens (custosas para o Tesouro), o BNDES poderia exigir das empresas que têm acesso a esses juros subsidiados maior elevação dos seus investimentos.