Título: SP tem 5,3 mil internações à força em 2012 e supera total registrado em 8 anos
Autor: Ferraz, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2013, Metrópole, p. C1

Pelo menos 5.335 dependentes de drogas e álcool foram internados à força na capital em 2012 após autorização de parentes, mesmo sem apoio do governo ou orientação da Justiça - que nesta semana deflagraram uma força-tarefa para conter o avanço do crack. As chamadas internações involuntárias foram notificadas ao Ministério Público Estadual (MPE) entre 1º de janeiro e 31 de dezembro do ano passado. Na média, são 14 por dia.

O número registrado em 2012 é 736% maior do que a média dos últimos oito anos. Segundo o MPE, 5.103 notificações foram recebidas pelo Centro de Apoio Operacional (CAO) Cível e de Tutela Coletiva entre 2004 e 2011 - média de 637 casos anuais ou dois casos por dia. Segundo legislação federal, clínicas ou comunidades terapêuticas devem notificar o MPE sobre a internação em 72 horas.

A obrigatoriedade vale para qualquer diagnóstico, seja ele relacionado ao uso de drogas, álcool ou mesmo a doenças mentais. De acordo com o promotor de Justiça Eduardo Ferreira Valério, a regra federal nem sempre é cumprida. "Acredito que o número de subnotificações tenha diminuído, mas ainda existe."

Para Valério, o aumento não tem relação direta com a operação policial iniciada em janeiro de 2012 na cracolândia. "A presença dos policiais só fez dispersar os usuários. Houve fuga, não busca por tratamento entre os dependentes da região", diz.

Além de registrar as internações, o MPE busca agora formar uma equipe para acompanhar os tratamentos. "Estamos trabalhando essa necessidade para ter conhecimento não apenas do início da internação, mas do meio e do fim" afirma Valério.

Plantão. Ontem à tarde, a Justiça autorizou a primeira internação compulsória de um usuário de drogas desde que o plantão judiciário começou a funcionar na cracolândia na segunda-feira. A medida se dá quando o usuário é internado sem sua vontade e sem autorização de um parente. Outras sete pessoas também foram internadas no período, mas com aval da família.

Com o mutirão do governo em parceria com a Justiça, houve um aumento pela procura por atendimento no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod). Na segunda e terça-feira, passaram pelo local 81 pessoas. A média é de 30 pessoas por semana. O governo anunciou reforço no atendimento e a criação de mais 66 vagas para internação. / Colaborou Tiago Dantas