Título: Os mil olhos do Senado Federal
Autor: Álvares, Débora ; Brito, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2013, Nacional, p. A5

Dentro e fora da Casa, uma câmera a cada passo. Entradas, saídas, visitas, conversas no corredor. Difícil encontrar um lugar dos 267 mil m2 do Senado - são 28 andares - que não seja monitorado por uma das 900 câmeras de segurança. Com o triplo do tamanho - 840 mil m2 de extensão territorial -, a Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, recebeu 80 câmeras de vigilância em janeiro deste ano.

Só na entrada lateral do pré­dio, na Esplanada dos Ministé­rios, são 10 equipamentos. No hall de entrada do gabinete da Presidência, mais 10. Os passos de quem passa pelo acesso ao ple­nário são vigiados por outras sete câmeras.

Os corredores onde ficam os gabinetes do senadores têm uma média de quatro gravadores de ví­deo cada um. Além do prédio principal, dos anexos e garagens, as residências oficiais dos senado­res e da Presidência da Casa também são monitorados.

De responsabilidade da Polí­cia Legislativa, a última licita­ção, que trocou pelo menos 150 equipamentos e modernizou o sistema, custou aos cofres públi­cos R$ 3.143.600, pagos à empre­sa Multidata. De diferentes ti­pos (há pequenas e grandes filmadoras, as que funcionam 24h ou as que são acionadas por movimento) , algumas chegam a cus­tar R$ 11,5 mil.

A mesma Multidata é responsá­vel pela manutenção do sistema de cabeamento de dados da Casa. O contrato, de R$ 459,6 mil ao ano em 2008, hoje está em R$ 603,8 mil. Por mês, o governo do Rio de Janeiro gasta R$ 98 mil pa­ra manter o sistema de vigilância na Favela da Rocinha.

As imagens, hoje digitalizadas, são armazenadas pela Polícia Le­gislativa do Senado. Para conseguir ter acesso a uma delas, segun­do os próprios policiais, é preciso abrir um inquérito para investi­gar algo.

"E, mesmo assim, não abrimos o vídeo para qualquer pessoa. Ele serve para trabalho policial", des­tacou um funcionário.

Os senadores podem solicitar acesso às imagens por meio de um requerimento. O pedido é analisado pela Presidência da Casa, que pode negá-lo. Foi o que ocorreu em março de 2006, quando a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) tentou aces­so às imagens da segurança pa­ra identificar passagens do ca­seiro Francelino Costa, que de­nunciou o então ministro Antônio Palocci de envolvimen­to no escândalo que levou à CPI dos Bingos.

Um ano antes, porém, as gra­vações do sistema de vídeo de segurança foram usadas para provar que o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) conversou em segredo com o empresário Marcos Valério de Souza, con­denado a 40 anos de prisão por envolvimento no mensalão, na garagem do Senado. Pimen­ta perdeu a vice-presidência da CPI do Mensalão. / D.A.