Título: Planalto abre portas para volta de Renan
Autor: Bergamasco, Débora
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2013, Nacional, p. A8

Seis anos depois de ser afasta­do da presidência do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) é o favorito para assumir, nova­mente, o mais alto posto na Ca­sa, em eleição a ser realizada em 1.° de fevereiro. A volta do peemedebista tem a bênção do Palácio do Planalto e foi resul­tado de uma costura política que uniu PMDB e toda a base de sustentação da presidente Dilma Rousseff no Congresso,

O "acordão" é bancado e chan­celado inclusive pelo PT, que pre­feriu manter a aliança política com o partido majoritário dentro do Congresso a contestar a polê­mica candidatura do alagoano. O parlamentar renunciou em 2007 ao cargo que hoje pleiteia, para tentar se livrar da cassação de seu mandatod e senador ,após ser acu­sado de permitir que um lobista de uma empreiteira pagasse suas despesas pessoais, como a pen­são da filha que teve em relação extraconjugal com ajomalista Mônica Veloso.

Mesmo respondendo a proces­sos na Justiça, entre eles um de im­probidade administrativa, e tendo seu nome ainda constantemente envolvido em polêmicas, como mostrou reportagem publicada pelo Estado apontando que uma "empreiteira amiga" do senador foi beneficiada com contratos que somam R$ 70 milhões no progra­ma social Minha Casa, Minha Vi­da, o nome do peemedebista se­gue firme na disputa.

O senador Humberto Costa (PT-PE) resume o motivo para tamanho apoio proveniente, in­clusive, de parlamentares que afirmam ter votado- em delibera- ção secreta - pela cassação de Rnan há seis anos: "Ele tem se mos­trado comprometido com os inte­resses do governo. O que passou, passou e a população teve tempo de fazer sua própria avaliação". Dessa maneira, a expectativa é que na gestão Renan os desejos do governo federal no Senado sejam facilmente contemplados justa­mente porque cabe ao presidente da Casa estabelecer o que entra ou não na pauta devotação e convocar as sessões plenárias tanto do Sena­do quanto do Congresso - da qual participam também os deputados.

Oposição. Mesmo entre quem é contra a candidatura de Renan, e a continuidade que ela representa, reconhece a habilidade política do parlamentar. "Nós somos omis­sos e incompetentes se compara­dos a ele. Renan circula bem den­tro de qualquer governo, é hábil e, na relação pessoal, é muito simpá­tico. Digo por mim, eu me dedico muito mais à minha luta pela educação do que às políticas no Se­nado", disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Ele aproveita para reclamar da má imagem que os congressistas acumulam há anos: "Acostumamos a ser chaco­ta da opinião pública, perdemos não só o poder como o pudor".

Enquanto para o vice-presiden­te Michel Temer a eleição do sena­dor alagoano não afetará a credibi­lidade da Casa, pois ele poderá fa­zer ""uma belíssima gestão", o sena­dor Pedro Simon, que é do mesmo PMDB, opina que o colega de ban­cada "deveria ficar quieto e não se candidatar a nada". Simon apoia uma candidatura alternativa - Pedro Taques (PDT-MT) ou Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Apesar de abraçar a candidatura de Renan, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que está procu­rando seus colegas de bancada pa­ra "refletir sobre o assunto". Suge­riu: "Quem sabe o PMDB não teria outro nome de destaque para indi­car? Alguém que não gerasse preo-cupação aos outros colegas?" E continuou: "Uma coisa é apontar um nome que apoie qualquer proposta da presidente Dilma e estar sob desconfiança da opinião pública; outra é indicar alguém que ajude o gover­no, mas de modo crítico, com experiência e que não estaria sendo alvo de nenhuma polêmica".