Título: Julgamento da chacina de Unaí deve atrasar mais um ano
Autor: Portela, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2013, Nacional, p. A7

O cálculo é do próprio Ministério Público de MG, depois que juíza de BH decidiu devolver processo à cidade onde caso ocorreu

Nove anos depois do assassina­to de quatro servidores do Minis­tério do Trabalho em Unaí, no noroeste de Minas, o Ministério Público Federal estima que pode demorar mais um ano até que os acusados sejam julgados. Esse é o prazo que o MPF acredita que a Justiça levará para analisar recur­so contra a decisão da juíza subs­tituta da 9.ª Vara Federal em Be­lo Horizonte, Raquel Alves de Li­ma, que declinou da competên­cia para julgar o caso, na quinta-feira, e determinou o envio do processo para Unaí.

A procuradora da República Mirian Moreira Lima confirmou ontem que vai recorrer ao Tribu­nal Regional Federal e ao Supe­rior Tribunal de Justiça para que o julgamento fique em Belo Horizonte. Ela avaliou não haver imparcialidade em um júri popular formado por moradores de Unaí, já que um dos acusados de ser o mandante da chacina, o pro­dutor rural Antério Mânica (PSDB), foi eleito prefeito da ci­dade duas vezes. Ele acaba de perder o foro privilegiado, o que levou o TRF1 a determinar a re­messa do processo para a primei­ra instância. "Haverá prejuízo para o trabalho do Ministério Pú­blico, que vê dificuldade em con­seguir isenção dos jurados em Unaí. Um réu foi prefeito e ou­tro fez ameaças", justificou Mi­rian Lima.

Em janeiro de 2004, quatro funcionários do ministério - os auditores fiscais Nelson José da Silva, Eratóstenes de Almeida Gonçalves e João Batista Soares Lage e o motorista Ailton Perei­ra de Oliveira, foram executados em uma estrada de terra na zona rural de Unaí. A equipe fiscaliza­va a exploração de trabalho es­cravo por fazendeiros na região.

Sem isenção. A opinião de que o julgamento em Unaí não será isento é partilhada por autorida­des e entidades que participa­ram ontem de reunião da Comis­são Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) e de um ato público em Belo Hori­zonte. "É uma decisão que espan­tou a todos. Esperamos que a Justiça consiga dar resposta a um massacre ocorrido há tantos anos", reagiu o ministro do Tra­balho e Emprego, Brizola Neto. "A impunidade em Unaí faz com que maus empregadores se sin­tam à vontade para fazer amea­ças contra fiscais,", emendou a presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Tra­balho, Rosângela Rassy.

"Com essa decisão, ela (a juíza Raquel) está absolvendo anteci­padamente os réus. Unaí é a casa de Antério", afirmou a viúva de Nelson Silva, a gerente adminis­trava Elba Soares da Silva.

O Estado tentou falar com a juíza, mas, até o fechamento des­ta edição, não houve retorno.