Título: Dilma fez anúncio veemente para evitar prejuízo eleitoral
Autor: Duailibi, Julia
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2013, Nacional, p. A10

O tom mais duro adotado pela presidente Dilma Rousseff no pronunciamento feito para anunciar a queda do valor da conta de luz não foi casual. Ele foi resultado da avaliação feita dentro do Palácio do Planalto que identificou um risco para a imagem do governo e da própria Dilma e potencial prejuízo políti­co que poderia se refletir até nas eleições de 2014.

Segundo essa análise, estava se formando uma espécie de "cal­do de cultura" junto à opinião pú­blica de que o governo está em­perrado, sem conseguir fazer a economia alavancar, com proble­mas de gestão, sob risco da volta da inflação e de apagão ou racio­namento de energia. O fato de integrantes da oposição e até de partidos aliados insistirem no te­ma também reforçou a impres­são de que o assunto tinha tama­nho suficiente para virar bandei­ra de campanha eleitoral e fragilizar o governo.

Por causa disso, segundo inter­locutores próximos da presiden­te, Dilma quis falar de forma mais veemente para não apenas conter as críticas da oposição, mas também para mostrar que o governo está trabalhando. A re­dução na conta de energia foi considerada a ação ideal para exi­bir um movimento pró-ativo do governo e de impacto imediato.

Marqueteiro. Como em todos os seus pronunciamentos ofi­ciais, a presidente Dilma discu­tiu a maneira de falar diretamen­te com o marqueteiro João Santa­na e saiu convencida que era es­tratégico negar a possibilidade de falta de energia no País.

Além de poder mostrar imediatamente uma ação de seu governo - a queda na conta da luz -, Dilma e seus principais auxiliares também sabem que o tema energia é extremamente delicado. Em 2001, o PT ganhou muito espaço no seu discurso de oposição por causa do apagão ocorrido durante o governo Fernando Henrique Cardoso e que provocou racionamento de energia no País. Os petistas aproveitaram a situação e conseguiram um des­gaste expressivo na imagem do governo tucano por esse problema. O assunto acabou sendo um ponto importante na campanha presidencial do ano seguinte, vencida pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva.

No caso de Dilma, o tema é mais importante ainda já que seu nome começou a ganhar desta­que no cenário político justamen­te por sua gestão eficiente como secretaria estadual de Minas e Energia do governo do Rio Gran­de do Sul no período do apagão. Essa atuação fez com que Lula a escolhesse para ocupar o Minis­tério de Minas e Energia, em 2003, abrindo o caminho para sua trajetória vitoriosa até a elei­ção presidencial de 2010.

Disposição. O pronunciamento mais forte de Dilma apontou ainda para sua disposição de concor­rer à reeleição em 2014. O emba­te acirrado em torno da questão de energia e as críticas feitas aos adversários foi interpretado por integrantes da oposição como si­nal de disposição da presidente em tentar um novo mandato pre­sidencial. Tanto que o PSDB soltou uma nota oficial logo em se­guida para criticar a presidente por aproveitar o espaço de ca­deia nacional de televisão e rádio para fazer campanha política e antecipar a disputa eleitoral.

O governo prevê que a oposi­ção vá insistir no tema, mas inter­locutores diretos da presidente avaliam que o assunto poderá es­friar assim que o desconto na conta de luz comece a ser senti­do no bolso dos consumidores brasileiros. Com isso, esperam que a crise de energia deixe de ser um ponto de fragilidade para o governo federal.