Título: BC intervém e dólar fecha no menor nível desde julho
Autor: Cucolo, Eduardo ; Castro, Fabrício de
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2013, Economia, p. B3

Movimento que levou moeda a R$ 2,002 foi visto no mercado como forma de o banco aliviar a pressão cambial sobre a inflação

O dólar atingiu ontem a menor cotação frente ao real desde julho do ano passado, depois de uma inesperada atuação do Banco Central (BC).

Operadores do mercado financeiro afirmaram que o movimento feito pelo BC indica que o câmbio pode ser usado como instrumento para amenizar a inflação no início deste ano.

No fechamento dos negócios, a moeda americana era vendida a R$ 2,002, o menor nível registrado desde 2 de julho do ano passado. O valor representa uma queda de 1,38% em relação à cotação de fechamento da semana passada.

Pela manhã, o Banco Central realizou um leilão de contratos de câmbio - swap tradicional, que eqüivale à venda de moeda estrangeira - no valor de US$ 1,847bilhão. O objetivo da operação foi esticar até 1.° de março o vencimento de outros contratos cambiais, no mesmo valor, que venceriam na próxima sexta-feira, dia 1.° de fevereiro.

A operação do BC e seu efeito sobre a cotação da moeda americana foram interpretados por analistas como um sinal de que a instituição pode utilizar o câmbio como instrumento de controle da inflação.

As projeções da instituição para o índice de preços que baliza a política de metas de inflação (IPCA) estão acima de 4,5% e subiram nas estimativas feitas há duas semanas, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu manter a taxa básica de juros da economia brasileira em 7,25% ao ano.

Ao fazer a cotação se reaproxi-mar de R$ 2,00, a instituição, na visão do mercado financeiro, alivia um pouco a pressão cambial sobre a inflação, em um momento em que vários índices de preços mostram alta.

Banda estreita. "O swap é mais uma indicação de que o Banco Central está interessado em deixar o câmbio numa banda bem estreita, com R$ 2,05 como teto das cotações", comentou Maurício Nakahodo, consultor de pesquisas econômicas do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ. "O leilão do BC não era esperado e sinaliza que, para ele, um dólar entre R$ 2,05 e R$ 2,10 não é mais desejável", acrescentou Fernando Bergallo, gerente de câmbio da TOV Corretora.

O movimento de baixa do dólar em relação ao real foi intensificado pela queda de braço no mercado futuro, faltando poucos dias para a determinação da taxa média do dólar (Ptax) no fim do mês, que servirá de referência para a liquidação dos contratos cambiais em 1.° de fevereiro. Bancos e investidores estrangeiros pressionam o dólar para baixo, o que vai favorecer seus ganhos. Fundos de investimento, de outro lado, exercem pressão contrária, de alta.

Nesse contexto, alguns profissionais já enxergam espaço para que o dólar recue nos próximos dias a níveis inferiores a R$ 2,00, com o mercado também testando a disposição do BC em atuar novamente, desta vez, para segurar a moeda.