Título: A Merkel, Dilma deve pedir fim de protecionismo
Autor: Monteiro, Tãnia
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2013, Internacional, p. A14

A presidente Dilma Rousseff se reuniria ontem em Santia­go com a chanceler alemã, An­gela Merkel, durante a 1ª Cú­pula da Comunidade de Esta­dos Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) - União Euro­péia. À líder alemã, a presiden­te deve reiterar seu discurso de pregar o fim no protecionis­mo dos países europeus.

O recado a ser dado não só a Merkel, mas a toda União Euro­péia é que, se os europeus que­rem que o Brasil e os países da América Latina abram suas indústrias e comércio para eles, os europeus têm de abrir seus mer­cados para os produtos agríco­las produzidos pelo Brasil e a re­gião em geral. Para isso, seria preciso encontrar um ponto de equilíbrio que interesse a todos.

Estava prevista também para a tarde de ontem a reunião ape­nas dos países da Celac, quando Cuba assumiria a presidência do bloco, em substituição ao Chile. Desde o meio da semana, a presi­dente Dilma avisou que está dis­posta a não participar desta par­te do encontro. Mas seus auxiliares tentam demovê-la da ideia de voltar ainda no sábado à noi­te para Brasília. Temem que sua ausência soe como descaso à chegada de Cuba à presidência do bloco ou à importância que ela dá ao grupo.

A chegada de Cuba à presidên­cia do bloco é uma incógnita. Di­plomatas brasileiros não conse­guiam explicar por que Cuba as­sumirá neste fim de semana a presidência pro-tempore da Celac. A tradicional regra de seguir a ordem alfabética dos nomes dos países, na presidência dos blocos, neste caso, não foi cum­prida. Havana ficará responsá­vel por negociar, em nome dos 34 países da região, a aliança es­tratégica com os 27 países da União Européia.

Polêmica. Ao chegar a Santia­go, o presidente Raúl Castro en­frentará problemas. Na quinta-feira, a embaixada cubana foi al­vo de protestos, liderados por parlamentares da União Demo­crática Independente (UDI), um dos partidos de direita que integram a coalizão do governo do presidente Sebastián Pinera.

Eles exigem que Raúl Castro devolva ao Chile os assassinos do senador chileno Jaime Guzmán, morto em 1991, que estão em Havana. Na sexta-feira, em entrevista, o presidente Pinera chegou a declarar que vai pedir maior colaboração ao governo de Cuba para avançar na deten­ção dos assassinos de Guzmán.

A reunião de ontem em Santia­go teria como tema "Aliança pa­ra um desenvolvimento susten­tável: promovendo investimen­tos de qualidade social e ambien­tal". Pelo menos 43 dos 60 paí­ses do bloco estavam represen­tados.

Ao chegar a Santiago, a presi­dente fez um "agradecimento es­pecial" ao Chile por ter recebido em seu país, durante a "ditadura militar no Brasil", "integrantes do seu governo".

"Muitos membros do meu go­verno viveram aqui no período da ditadura militar no Brasil e, por isso, nós sabemos que os nossos laços, além desses e de todos os históricos que nos unem, eles estão muito além de simplesmente laços econômi­cos e, sobretudo, são relativos a laços humanos, a laços pessoais, que nós construímos no correr do tempo histórico em que nos­sos países se relacionaram", afir­mou.