Título: Os investimentos na economia estão sendo retomados
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2013, Economia, p. B9

Para o presidente do BNDES, percepção de que o Brasil não estava crescendo ou não iria crescer já foi ultrapassada

O investimento na economia brasileira, que caiu por cinco trimestres consecutivos (e provavelmente seis, incluindo o último de 2012), está sendo retomado, diz Luciano Coutinho, presi­dente do Banco Nacional de De­senvolvimento Econômico e So­cial (BNDES). Esta é, pelo me­nos, a indicação das operações do banco. Segundo Coutinho, as consultas ao BNDES "cresce­ram exponencialmente" no últi­mo trimestre de 2012, num sal­to de 150% em relação a igual período de 2011. E o crescimen­to de 60% em 2012 foi muito concentrado no final do ano.

Apresentado em Davos co­mo o presidente de um banco de fomento maior do que o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) juntos, Coutinho teve uma agenda intensa no Fórum Econômico Mundial, e teve até de "racionar" os encontros com executivos de grandes empre­sas. Coutinho disse também que o BNDES pode parar de crescer se o mercado de finan­ciamento privado de longo pra­zo crescer rápido o suficiente para atender à demanda adicio­nal. À seguir, a entrevista:

• Como foi o seu programa em Davos?

Foi uma programação muito in­tensa. Muito interesse de em­presas em confirmar investi­mentos no Brasil. Eu tive uma superdemanda por encontros, e tive até de racionar um pou­co. Terminei restringindo só a principais executivos.

• De quais setores?

Áreas de agronegocio, equipa­mentos, metais, entre outras. Tive conversas sobre a agenda de energia. O meu sentimento é que aquela percepção de que a economia não estava crescen­do, não ia crescer, já foi ultra­passada. A discussão agora é so­bre quanto a economia vai cres­cer em 2013 e 2014 e se o gover­no está preparado para dar su­porte ao crescimento.

• 0 investimento caiu por seis trimestres; consecutivos. Qual a perspectiva à frente?

No último trimestre, as consul­tas ao BNDES subiram expo­nencialmente, 150%. No ano to­do, subiram 60%, mas foi muito concentrado no último trimes­tre. O volume de enquadramen­tos foi porcentualmente mais al­to, revelando projetos mais con­sistentes e de maior escala. Também houve uma aceleração forte na venda de vários equipa­mentos e bens de capital na li­nha Finame no fim do ano. Mes­mo em janeiro, mês sazonalmente menos ativo, está se mos­trando forte. Do ângulo do BNDES, há uma retomada tan­to de planos de investimento quanto de gasto efetivo em bens de capital.

• Quais os setores puxarão essa retomada?

Infraestrutura, energia, energia renovável, infraestrutura so­cial, saneamento, mobilidade urbana. Apoiamos também os investimentos dos Estados, que também tiveram uma acelera­ção no fim do ano. O setor auto­motivo também está reagindo razoavelmente bem. Os investi­mentos estão voltando, há no­vas unidades, e expansão das unidades existentes. Também tem a área de óleo e gás, que passou por um período de redu­ção no ano passado, è agora está em ascensão. Em telecomuni­cações, há renovação de investi­mentos.. Mesmo alguns setores voltados para mercado de con­sumo interno, como o têxtil, es­tão tendo um razoável , desem­penho de investimento. E, final­mente, a venda e a comercializa­ção em larga escala de máqui­nas e equipamentos pela linha Finame, inclusive caminhões e ônibus, que mostrou no final do ano uma forte recuperação.

Como o sr. vê a crítica Liberal de que o BNDES mais atrapalha do que ajuda o financiamento pri­vado de longo prazo, porque sua presença inibe a criação deste mercado?

Esse argumento tinha mais ra­zão de ser quando a diferença de taxas de mercado e do BNDES era maior. A redução de juros ocorrida de 2011 para 2012 é um fator extremamente positi­vo para viabilizar o funding pri­vado de longo prazo. Por outro lado, no passado recente e ain­da hoje, o setor financeiro priva­do ainda não tem capacidade de financiamento de longo prazo na escala necessária. Então, sem o BNDES, boa parte do in­vestimento não aconteceria ou aconteceria com endividamen­to externo, o que nem sempre é saudável. Então, acho que o grande avanço é que a conver­gência começou a acontecer.

Como assim?

Há um potencial muito grande, começando pelo mercado de ca­pitais. Fundos de investimento, fundos de pensão, fundos de se­guros, que precisam ter uma performance de rentabilidade, com os títulos de renda pública rendendo muito menos, preci­sam encontrar alternativa. As melhores alternativas, acredito, são bons projetos de infraestrutura, que têm longa maturida­de, e podem oferecer uma ren­da fixa pára investidores institu­cionais com o perfil adequado, se os incentivos forem coloca­dos. O BNDES está colaboran­do com o desenvolvimento do mercado privado, cofinanciando, criando cláusulas que dão condições de confiabilidade à emissão desses papéis privados.

O BNDES pede diminuir, se o financiamento privado de longo prazo crescer?

Acho que o potencial de cresci­mento do mercado privado é muito grande. Se o mercado crescer rapidamente, a gente pode ficar parado, e todo o au­mento do investjímento ser na margem financiado pelo merca­do. Sé o mercado demorar, nós temos de ser mrató cautelosos para não. cair no riscodeinviabi- Itóar o investimento óu o merca­do. Tem de ter uma sabedoria nesse equilíbrio, e êu estou ex­tremamente consciente dá ne­cessidade de fazerojogode so­ma positiva.