Título: Política monetária pouco rigorosa com a inflação
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2013, Economia, p. B2

A leitura da Ata da 172ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) seguramen­te não suscita con­fiança nas deci­sões das atuais au­toridades monetá­rias. Dois anos atrás, o comportamen­to dos índices de inflação faria com que as autoridades monetárias optas­sem por uma elevação da taxa Selic. Mas a equipe que compõe hoje o Copom tem um entendimento diferen­te: uma elevação da taxa básica de juros teria o efeito de tolher a recupe­ração da economia e, nesta perspecti­va, é melhor aceitar uma inflação mais alta.

Os membros do Copom se apoiam no modelo dos EUA, onde uma taxa básica de juros praticamente equiva­lente a zero foi mantida para ajudar a recuperação da economia. Porém, o contexto ali é muito diferente do nos­so, a inflação se mantém abaixo de 2% e não há nenhuma pressão infla­cionária despontando.

A ata divulgada ontem traz todas as indicações de que se prevê uma maior inflação. No parágrafo 31, os seus autores não podiam ser mais cla­ro: "O Copom destaca que o balanço de riscos para a inflação apresentou piora no curto prazo e que a recupera­ção da atividade doméstica foi me­nos intensa do que o esperado". É uma constatação que deveria bastar para reconhecer que esse novo enten­dimento de política monetária está fracassando.

Os autores da ata, porém, conti­nuam defendendo um crescimento pela demanda doméstica, embora re­conhecendo que existem limitações no campo da oferta que a política mo­netária, atuando apenas no da de­manda, não pode corrigir. Mais do que isso, o Copom considera que a atividade doméstica continuará a ser favorecida pelas transferências públi­cas que no passado eram considera­das como um fator negativo.

Sobre este assunto, o Copom pare­ce ignorar os truques utilizados pelo governo para apresentar um superá­vit primário equivalente ao fixado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mantendo o mesmo valor que no ano passado.

Aliás, não se entende que, nas suas hipóteses de base, o Copom esteja prevendo reajustes de preços abaixo dos anunciados pelo governo.

No que se refere à inflação, o Co­pom mostra-se pessimista no curto prazo e cita a reversão de isenções tributárias, as pressões localizadas no setor do transporte e a pressão do preço das commodities minerais, em parte compensada pela queda das commodities agrícolas. Mais uma vez, porém, são condenadas as sub­venções ao crédito, uma mostra de que não há submissão ao governo.