Título: BC avisa que não persegue crescimento a qualquer custo
Autor: Cucolo, Eduardo; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2013, Economia, p. B4

A ata da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2013, divulgada ontem, não deixou de ser es­crita no "coponês" usual - o idioma das comunicações do Comitê com o mercado, só acessível aos iniciados. Mas, desta vez, dife­rentemente do que geralmente ocorre, sua prin­cipal mensagem pode ser captada em límpido português: na atual quadra da economia, a recuperação está menos intensa do que se esperava e isso se deve a limitações no lado da oferta. Essas limitações, segundo a ata do Copom, não podem ser enfrentadas com ações de política monetária, cujos instrumentos se prestam mais ao controle da demanda.

Mensagem tão clara não deixou margem a di­vergências entre os analistas. Todos entende­ram o aviso de que o BC não promoverá novas reduções da taxa básica de juros para tentar rea­tivar a economia. Depois da ata de ontém, aque­les que consideravam a possibilidade de novos cortes nos juros básicos ainda este ano, járevisa- ram suas projeções. Não sobrou ninguém para apostar em novos cortes na taxa Selic em 2013, que deve permanecer em 7,25% ao ano.

Restaram algumas poucas e fracas apostas na hipótese de uma alta na Selic ainda este ano.

Isso se deveu a uma também clara elevação na ênfase conferida aos riscos inflacionários, na atual quadra da economia brasileira. Se, na ata da reunião anterior, em fins de novembro, o Copom já ensaiara uma mudança no tom em relação às preocupações com a inflação, isso foi escancarado agora. A avaliação exposta na ata de janeiro é a de que "o balanço dos riscos para a inflação apresentou piora no curto prazo".

As expectativas para a inflação, de fato, são de uma trajetória bastante desfavorável até o fim do primeiro semestre. Há um amplo consenso entre os analistas de conjuntura macroeconô­mica que a variação do IPCA, o índice de preços ao consumidor que baliza as metas de inflação, nos próximos meses, caminhará na direção de ultrapassar os 6,5% do teto da meta, no acumula­do em 12 meses.

Outro consenso, ainda que menos compacto, no entanto, aponta para um alívio da pressão inflacionária, no segundo semestre, sobretudo nos itens alimentação e despesas pessoais, que hoje lideram a alimentação do IPCA. A hipótese mais aceita, no momento, é de que o índice fe­che 2013 um pouco abaixo dos 5,84%.

Ao repassar para o resto da equipe econômica do governo a bola da retomada econômica e, de certo modo, do alívio de pressões inflacioná­rias, estas pela via da contenção do expansionismo fiscal, o BC estreitou sua sintonia com o mercado. Se ainda não chegou ao ponto de sina­lizar a intenção de adotar medidas visando ace­lerar a convergência da inflação para o centro da meta, pelo menos deixou claro que, contrarian­do algumas convicções de críticos de sua atua­ção recente, não se dispõe a perseguir o cresci­mento da economia a qualquer custo.