Título: Gasolina deve subir 5%, diz ata do BC
Autor: Cucolo, Eduardo; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2013, Economia, p. B4

Comitê de Política Monetária do BC admite, em documento, que a inflação piorou, mas acredita que a pressão de preços será passageira

Pela primeira vez, um órgão do governo divulga oficialmen­te uma previsão de quanto os consumidores devem pagar a mais pelo litro da gasolina es­te ano. O Banco Central (BC) informou que trabalha com uma alta "em torno" de 5% no preço do combustível em 2013. Na semana passada, fon­tes oficiais disseram ao "Esta­do" que está em estudo um rea­juste de 7% na refinaria. Para reduzir o impacto ao consumi­dor, no futuro, haveria mudan­ças na quantidade de etanol misturado à gasolina e benefí­cios tributários para o setor.

A nova projeção foi expressa na ata da última reunião do Co­mitê de Política Monetária (Co­pom), divulgada ontem. No do­cumento, o BC estima ainda um corte de 11% na conta de energia residencial este ano. Essa expec­tativa leva em conta a redução.de taxas do setor anunciada pela presidente Dilma Rousseff, mas considera o efeito dos reajustes que são feito todos os anos pelas concessionárias. Isso comerá parte do benefício.

No fim das contas, a previsão do BC é que as tarifas e preços controlados pelo governo su­bam 3% neste ano, acima dos 2,4% que a instituição projetava anteriormente. Com isso, a pre­visão geral para a inflação neste ano também subiu e continua acima do centro da meta de 4,5%.

Na ata, a instituição diz que a inflação apresentou piora, mas pondera que essas pressões são temporárias. O BC admite que o aumento de preços é mais gene­ralizado, ou seja, não está con­centrado apenas em alguns produtos. Também pesam mudan­ças tributárias (como o aumento do IPI para veículos), despesas de início de ano e pressões no segmento de transportes. Esses fatores "tendem a contribuir pa­ra que, no curto prazo, a inflação se mostre resistente".

Como o BC prevê queda na in­flação a partir do segundo semes­tre, a instituição afirmou que a estratégia continua sendo a ma­nutenção da taxa básica de juros nos atuais 7,25% ao ano "por um período de tempo suficiente­mente prolongado".

Outro motivo para não mexer nos juros é a avaliação de que a demanda doméstica ainda conti­nuará a ser impulsionada pelo efeito dos cortes dejuros promo­vidos ao longo de 2012 e pela ex­pansão do crédito, segundo o BC, apesar da "fragilidade do in­vestimento". Além disso, a insti­tuição diz que a crise externa continua contribuindo para segurar a demanda.

Lavando as mãos. O BC sinali­zou que também não está nos seus planos fazer novos cortes de juros neste momento, mes­mo com a economia brasileira crescendo menos que o espera­do. De acordo com a instituição, o problema do crescimento não está na falta de demanda.

"O ritmo de recuperação da atividade econômica doméstica - menos intenso do que se anteci­pava - se deve essencialmente a limitações no campo da oferta", diz a ata. Esses "impedimentos", segundo o BC, não podem ser resolvidos com novos cortes deju­ros, "instrumento" de controle da demanda.

"O BC quis dizer que, se a eco­nomia não cresce, é por causa da oferta, pois os investimentos não avançam. É como se disses­se que "o problema não é com a gente, porque nós fazemos a nos­sa parte"", disse o diretor de pes­quisa da Nomura para a América Latina, Tony Volpon.

Para o economista-chefe da MCM Consultores, Fernando Genta, a principal mensagem da ata é que os juros ficarão estáveis até o fim do ano. "Quem estava esperando novas quedas de ju­ros neste ano, esqueça. O BC já fez o que estava ao seu alcance para estimular a demanda", afirmou. "Por outro lado, o BC tam­bém disse para quem espera al­tas da Selic em breve que isso não vai ocorrer."