Título: Tolerância com dólar fraco pode ter vida curta
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2013, Economia, p. B3

A queda do dólar ontem para o patamar de R$ 1,98 e a ausência do Banco Central no câmbio reforçam, no mercado, o sentimento de que o recuo da moeda americana vai ser tolerado enquanto os índices de preços continuarem em alta, ameaçando o cumprimento da meta de inflação.

Essa é a aposta de analistas que acreditam que a autoridade monetária só deve intervir no curtíssimo prazo se houver um recuo significativo e rápido da moeda, sem evidência de entradas de recursos e em decorrência de movimentos especulativos. Do contrário, se o declínio for persistente e gradual, o BC tende a aceitar uma taxa de câmbio mais apreciada sem intervir no ritmo desse movimento.

As estimativas são de que esse recuo poderia ir até R$ 1,95 no primeiro momento e, depois, até R$ 1,90. O gerente de câmbio da Caixa Geral de Depósitos (CGD) Investimentos, Jayro Rezende, avalia que se o movimento de queda da moeda for gradual, deve ser tolerado pelo BC, a despeito do compromisso do governo em buscar um crescimento maior do País este ano.

"A meta de manter o dólar acima de R$ 2,00 para estimular a indústria e os exportadores, visando defender o crescimento interno, já ficou em segundo plano, uma vez que a inflação hoje representa um risco maior para a estabilidade da economia", diz Rezende.

Mas para que o real apreciado se transforme em queda de preço efetiva na economia, o dólar teria que ficar mais baixo por pelo menos dois meses, diz o economista Darwin Dib, da CM Capital Market. Do contrário, afirma Dib, se a queda do dólar não for duradoura, não deve ter impacto sobre os preços. O economista acredita ser relativamente pequena a apreciação do real que o governo está disposto a tolerar. "Um recuo gradual do dólar até R$ 1,90 poderia ser aceito desde que ocorra de forma gradativa."

Nesse contexto, o gerente da CGD diz que o BC não deve intervir no câmbio no curto prazo. "O dólar a R$ 2,00 ou a R$ 1,95 não faz tanta diferença para o comércio exterior", observou.

Para o economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora de Câmbio, a atual política do BC pode ter consequências negativas no médio prazo. "O aumento da interferência do BC, tende a afastar os investidores estrangeiros, piorando as perspectivas de fluxo cambial para o País", avaliou. O economista disse ainda que o acentuado fôlego de baixa do dólar desde anteontem pode ter curta duração, porque estaria ligado também a interesses de fim de mês de investidores posicionados no mercado futuro.