Título: Investimento caiu permanentemente no Brasil, diz FGV
Autor: Villaverde, João ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2013, Economia, p. B4

Mudança de rota na política econômica do governo causou queda no nível de investimento nos últimos anos

O nível de investimento no Bra­sil caiu "permanentemente" nos últimos anos, fruto de uma mu­dança de rota na política econô­mica do governo, acredita o che­fe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasilei­ro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Samuel Pessoa, que não vislumbra reto­mada no curto prazo. "Na virada de 2010 para 2011, a estatística de cálculo do investimento mu­dou", observa.

A projeção é de uma queda de 4,5% no nível de investimento de 2011 para 2012. Para o quarto trimestre do ano passado, perío­do marcado por uma promessa frustrada de recuperação do se­tor industrial, a estimativa é de retração de 1,3%. Essa ainda é uma projeção de Pessoa, que aguarda próxima divulgação da produção industrial pelo Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Es­tatística (IBGE) para tomar co­nhecimento de fato da trajetó­ria recente do investimento no Brasil.

Se as apostas do Ibre/FGV se confirmarem, o país terá regis­trado a sexta queda consecutiva do nível de investimento na comparação com o trimestre imediatamente anterior. E, co­mo ocorreu durante todo o ano de 2012, mais uma vez as expec­tativas se voltam para os trimes­tres seguintes.

A tão esperada recuperação poderá vir no período de janeiro a março, disse o economista. Mas ele admite também que o momento da virada continua sendo uma incógnita, mais ba­seada em expectativas do que em fatos. Os altos estoques da indústria de bens de capital e as informações das construtoras, de que a desaceleração ainda é uma realidade, apontam para um processo de recuperação da economia mais lento do que o esperado.

Permanece a crença de que o investimento poderá respon­der aos frequentes incentivos do governo a qualquer momen­to, mas também de que o cená­rio já não é o mesmo de anos passados.

"Desde 2011, o tripé (controle da inflação, responsabilidade fis­cal e câmbio flutuante) come­çou lentamente a ser desmonta­do. A meta de inflação passou a ser de 5,5%, o câmbio agora é fixo e são utilizados artifícios contá­beis para fechar o superávit pri­mário", contestou Pessoa.

Velho debate. A visão do economistado Ibre/FGV é que o ve­lho debate entre desenvolvimentistas e liberais voltou à to­na com Dilma Rousseff. "Não se trata de um desentendimento do governo sobre a condução da economia. São apenas maneiras diferen­tes de enxergar o que é desenvol­vimento", disse Pessoa.

"É preciso entender a cabeça dos economistas da Unicamp pa­ra compreender as medidas da equipe econômica de estímulo à atividade", acrescentou. Para Pessôa, a cartilha desenvolvimentista deixada pelo economis­ta Celso Furtado guia a atuação de Dilma. A cartilha do Ibre/FGV é outra. Longe do tripé econômi­co, o País caminha para a inefi­ciência, acredita Pessôa.