Título: Intoxicação por substância química pode ter causado mortes em Campinas
Autor: Brandi, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2013, Vida, p. A16

Saúde. Especialistas, porém, não descartam nenhuma outra linha de investigação sobre a causa da morte dos três pacientes que haviam feito ressonância magnética na segunda-feira, no Hospital Vera Cruz; Anvisa interditou seis lotes de soro e dois de contraste

Técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvi­sa), do Ministério da Saúde, e a Secretaria de Saúde de Cam­pinas investigam a possibilida­de de uma substância quími­ca, ainda não identificada, ter provocado a morte dos três pacientes na segunda-feira, após a realização de exames de res­sonância magnética no Hospi­tal Vera Cruz.

"A causa mais provável, mas ainda sem embasamento, é que tenha ocorrido um quadro toxicológico, de natureza qualitativa ou quantitativa, que provocou a morte dessas pessoas", afirmou a gerente de Regulação e Contro­le Sanitário em Serviço de Saúde da Anvisa, Maria Ângela da Paz. Ela e outros dois técnicos do ór­gão chegaram na cidade ontem para auxiliar nas investigações.

Segundo as investigações ini­ciais, as vítimas podem ter sofri­do uma intoxicação por algum produto administrado no orga­nismo na hora da aplicação do contraste (composto químico, a base de gadolínio, usado no exa­me para melhorar a qualidade das imagens e do diagnóstico).

A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde, Brigina Kemp, explicou que essa subs­tância química injetada provo­cou uma reação hepática aguda, levando os pacientes à morte. As vítimas - dois homens, de 36 e 39 anos, e uma mulher de 25 - tive­ram parada cardiorrespiratória.

Nenhuma delas apresentava problemas de saúde e todas fize­ram ressonância magnética do crânio, segundo o hospital. Os homens passaram mal minutos depois do exame e a mulher che­gou a deixar a unidade médica, mas retornou após sentir dores.

"Não descartamos nenhuma outra linha de investigação, mas os resultados dos exames, como o de hemograma, sugerem que houve uma reação química", diz Brigina. Apenas os resultados dos exames do Instituto Médico- Legal, nos corpos, e as análises do Instituto Adolfo Lutz, nos ma­teriais e produtos utilizados nos procedimentos, poderão apon­tar a causa das mortes.

A especialista da Anvisa afir­mou que o agente toxicológico investigado pode estar presente na seringa, no soro, no medicamento aplicado no contraste ou pode ser o próprio gadolínio (contraste) utilizado em quanti­dade superior à permitida. Não está descartada a possibilidade de falha humana, de equipamento ou contaminação proposital.

Segundo Brigina, a evolução clínica dos pacientes é um forte indicativo de intoxicação. "Não descartamos uma reação a um agente microbiológico, como um vírus ou bactéria, mas o qua­dro de evolução não sugere is­so." Se a causa das mortes fosse uma infecção por esses agentes, os pacientes teriam apresentado outro quadro, com febre e evolu­ção mais lenta, afirma.

Interdição. Por conta das sus­peitas de que as mortes podem ter relação còm o contraste usa­do, as Secretarias de Saúde de Campinas e do Estado interdita­ram cautelarmente os lotes de produtos utilizados nos exames de ressonância magnética usa­dos no hospital de Campinas.

São quatro marcas de soro e duas de gadolínio. De acordo com a Anvisa, há no País seis marcas em circulação e todas têm certifi­cado de segurança e eficácia obti­do após uma série de estudos e testes exigidos para liberação de medicamentos sensíveis.

Nacionalmente, a Anvisa en­tendeu não ser necessária a suspensão dos produtos. Segundo a agência, são realizados milhares de exames diariamente no País e, embora o caso requeira uma investigação rigorosa, a situação é localizada e não caracteriza uma onda de problemas que jus­tifique retirar os produtos do mercado em nível nacional.

Em Campinas, os exames de ressonância magnética com con­traste, que haviam sido suspen­sos nas demais clínicas e hospi­tais na terça-feira, foram libera­dos ontem pela Secretaria Esta­dual de Saúde. Os locais podem fazer os exames sem utilizar os lotes e as marcas embargados sanitariamente.