Título: Mantega e o BC confundem o mercado de câmbio
Autor: Fernandes, Adriana ; Warth, Anne
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2013, Economia, p. B5

Na contramão do movimento feito pelo Banco Central (BC) para trazer o dólar para um nível mais baixo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a cotação da moeda americana não vai “derreter”, a política cambial permanece a mesma e a taxa de câmbio não será usada para controlar a inflação.

O recado enfático do ministro, na sua primeira aparição pública em 2013, durante encontro com novos prefeitos em Brasília, foi seguido pouco tempo depois por uma oferta de US$ 1,27 bilhão pelo BC. Os movimentos alimentaram a percepção, no mercado financeiro, de que falta “sintonia” entre Fazenda e BC sobre o rumo da política cambial.

A seqüência desencontrada de acontecimentos deixou os operadores do mercado confusos e ampliou a volatilidade na cotação da moeda americana ontem. Se com a fala de Mantega, durante a manhã, o dólar chegou a retomar os R$ 2,00, com a atuação do BC, no início da tarde, a moeda perdeu força, fechando cotada a R$ 1,99, alta de apenas 0,20%.

Apesar da avaliação que ganhou força entre os economistas de que o BC pode usar a valorização do real como mecanismo para ajudar a segurar a alta da inflação no início deste ano, Mantega disse que o único instrumento de política monetária para baixar os preços são os juros.

Ele não descartou até mesmo a possibilidade de elevação da taxa básica (Selic), caso necessário, para conter a pressão inflacionária. No mercado financeiro, analistas e investidores não acreditam nessa possibilidade em 2013 - ao menos por ora.

Mantega enfatizou ainda que a mudança de nível da taxa básica de juros - que atualmente está em 7,25% ao ano, a menor da história - não significa que esteja engessada. Se um aumento tiver de ser feito, esse avanço não será uma “sangria desatada”, disse.

Mantega indicou que uma alta entre 0,25 e 0,50 ponto porcentual seria suficiente para conter um surto inflacionário porque a política monetária está mais eficiente. “Se o câmbio ficar estável, ele não gera mais inflação, e não pode ser usado como mecanismo (de controle inflacionário). Portanto, não esperem que o câmbio venha a derreter.”

Teste. Com o ruído instalado no mercado financeiro, a explicação técnica dado por um integrante da equipe econômica foi a de que o leilão anunciado pelo BC serviu para “testar o apetite” do mercado por dólares.

O objetivo do BC era renovar por mais um tempo uma operação de venda de moeda americana com compromisso de recompra que vence na sexta-feira. Isso seria feito porque a saída de dólares do mercado brasileiro está acima do volume de entradas neste início de ano.

“O mercado está querendo dólar ou não? O teste mostrou que o apetite é nulo”, disse o integrante da equipe econômica, que contestou a avaliação de que estaria havendo uma “guerra” no câmbio. Ao longo da semana, a expectativa no mercado era de que o BC estaria tentando colocar o dólar mais perto de R$ 2 ou até mesmo num nível um pouco mais baixo. O mercado até esperava para breve uma mudança no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incide sobre o capital externo para ajudar nessa estratégia.

Mantega, por sua vez, insistiu em que a política cambial não mudará e fez questão de ressaltar que o importante para o governo é evitar movimentos bruscos na cotação da moeda americana. “O câmbio é flutuante, mas, se exagerar na dose, a gente vai lá e conserta.”

O ministro admitiu que a inflação causa preocupação em alguns momentos, mas a pressão de alta é temporária. Ele reconheceu, no entanto, que a valorização do dólar em 2012 teve impacto sobre o IPCA, que fechou o ano com alta de 5,84%. “Como tivemos uma elevação do dólar, e nós apoiamos essa elevação, tivemos uns 20% de desvalorização do real, e isso afetou a inflação”, afirmou. Esse cenário não deve se repetir em 2013, disse.

Num discurso otimista, Mantega afirmou que a economia brasileira está numa trajetória de crescimento e que a arrecadação pública vai se recuperar. Segundo o ministro, as previsões de expansão da economia para este ano estão entre 3% e 4%.

Farpinhas» Sob forte pressão por causa do crescimento mais baixo da economia brasileira 110 ano passado, o ministro disse que “farpinhas” contra ele fazem parte do jogo, Ele atacou os que “choramingam” porque os juros estão mais baixos no País. “Alguns estão choramigando mais, jogando farpinhas. É do jogo”, afirmou.