Título: Sob constrangimento, Renan disputará com Taques a presidência do Senado
Autor: Lopes, Eugênia; Bergamasco, Débora; Brito, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2013, Nacional, p. A4

Alvo de três inquéritos no Su­premo Tribunal Federal (STF), o senador Renan Calheiros (AL) foi oficialmente lançado ontem pelo PMDB candidato à presidência do Se­nado. O peemedebista deverá ser eleito hoje com um placar folgado de votos, mas, alvo de (denúncias, deve enfrentar crí­ticas constrangedoras na tri­buna. Ele disputará com o senador Pedro Taques (PDT- MT), que ontem obteve o apoio do PSDB e do PSB.

A menos de 24horas da eleição e debaixo de uma saraivada de denúncias e de críticas da oposição, Renan manteve o suspense e uma candidatura furtiva: ele simplesmente se recusou a falar sobre sua pretensão de suceder José Sarney (PMDB-AP) no comando do Senado, pelos próximos dois anos.

Questionado se a bancada es­tá desconfortável e constrangi­da com a candidatura de Renan, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp foi incisivo: "Em absoluto. O Renan não teve ne­nhum julgamento, nenhuma condenação. É um líder nato".

Pedro Taques (PDT-MT) foi lançado ontem como candidato único de um grupo de parlamen­tares apontados como indepen­dentes. "Ganhar ou perder é uma consequência da disputa", avaliou Taques, depois de rece­ber o apoio do PSDB, que conta com 11 senadores. Por contrariar o PMDB, o PSDB agora corre o risco de perder a 1ª Secretaria do Senado, uma espécie de prefeitu­ra da Casa. "O político que entra em uma eleição pensando só em ganhar não pode ser candidato, estamos construindo esta candi­datura por motivo de honra", dis­se o pedetista.

A expectativa de aliados de Re­nan, porém, é que ele receba vo­tos de tucanos, já que a votação é secreta. O senador Antonio Car­los Valadares (PSB-SE) cogitou se lançar na disputa, mas desis­tiu depois que Taques se recu­sou a abrir mão de sua candidatu­ra. O PSB resolveu, então, apoiar também candidatura de Taques.

A candidatura de Renan para suceder Sarney foi aprovada por 17 do total de 20 integrantes da bancada. Os senadores Pedro Simon (RS), Jarbas Vasconcellos (PE) e Luiz Henrique (SC) não estavam presentes à reunião que ungiu Renan à condição de candi­dato. Passados mais de 40 minu­tos do fim do encontro, Renan foi abordado por jornalista que indagou se ele se sentia confortá­vel para presidir o Senado nova­mente. Levemente irritado, ele respondeu: "Imagine você", e partiu em disparada.

Ao mesmo tempo em que a bancada do PMDB estava reuni­da para oficializar a candidatura de Renan, os tucanos também promoviam um encontro para decidir sobre o apoio à candida­tura de Taques. Durante a reu­nião, houve resistência de al­guns tucanos que ainda discuti­ram em favor da proporcionalidade do PMDB na indicação do nome. Apesar da decisão da bancada favorável ao pedetista, a ex­pectativa é que haja dissidências de ao menos quatro parlamenta­res, especialmente a de Flexa Ri­beiro (PSDB-PA), candidato à 1ª Secretaria do Senado.

Preço. Mesmo assim, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) dis­se que a legenda está disposta a sacrificar um cargo na Mesa. "Va­mos reivindicar os espaços aos quais temos direito, indicando nomes que possam atender aos interesses da Casa, mas se esse for o preço a pagar, para mim ele é absolutamente irrelevante."

Aécio reconheceu que será di­fícil reverter o favoritismo de Re­nan. "Sabemos que é uma luta difícil, mas não tomamos uma decisão por razões pessoais, mas para preservar a instituição. " De­pois de tomar conhecimento da postura do PSDB, o PMDB deci­diu que uma eventual retaliação aos tucanos dependerá do pla­car. Será diante do número de votos obtidos por Renan que o PMDB saberá o tamanho da dissi­dência entre os tucanos. Só en­tão os aliados vão resolver se lan­çam ou não candidato para dis­putar a primeira secretaria.

Na reunião da bancada do PMDB, Renan anunciou a cria­ção de secretaria para dar trans­parência aos atos do Senado. De­fendeu ainda o fortalecimento do pacto federativo e a votação de projeto com as novas regras de partilha dos recursos do Fun­do de Participação dos Estados (FPE). Sarney fez um balanço de sua gestão à frente do Senado nos últimos quatro anos.