Título: Senado ignora denúncia de peculato e falsidade e elege Renan com 56 votos
Autor: Lopes, Eugênia ; Brito, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2013, Nacional, p. A4

Denunciado pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal (STF) por desviar dinheiro do Senado, o senador Reenan Calheiros (PMDB -AL) foi eleito ontem com 56 votos pára presidir a Casa pelos pró­ximos dois anos. Seu adversá­rio na disputa, Pedro Taques (PDT-MT), obteve apenas 18 votos, apesar de o PSDB, PSB, PDT, DEM e PSOL terem fe­chado apoio à sua candidatu­ra. Dois senadores votaram em branco e outros dois anula­ram o voto. Como os cinco par­tidos que se uniram na candi­datura anti-Renan, juntos, têm 25 senadores, houve dissi­dentes pró-peemedebista.

"Obviamente, esperávamos mais votos", reconheceu o sena­dor Randolfe Rodrigues, (PSOL- AP), que abriu mão de se lançar na disputa em prol de um candi­dato independente único.

Diante da vitória de Renan, os aliados desistiram de retaliar o PSDB e lançar um candidato à 1.a Secretaria do Senado, considera­da uma espécie de prefeitura da Casa, responsável por um orça­mento de R$ 3,5 bilhões, em 2013. Mesmo depois de os tuca­nos terem declarado apoio ofi­cial à candidatura de Taques, o cargo ficou com o senador tuca­no Flexa Ribeiro (PA).

Renan retoma ao comando do Senado cinco anos após renun­ciar ao cargo para não ser cassa­do e uma semana após o procura­dor-geral da República, Roberto Gurgel, tê-lo denunciado por pe­culato (desvio de dinheiro públi­co),falsidade ideológica e uso de notas falsas. A denúncia foi en­viada ao Supremo Tribunal Fede­ral (STF). O novo presidente do Senado foi eleito em votação se­creta, com a presença de 78 dos 81 senadores. Dos 17 senadores que discursaram, nove defende­ram Renan e apenas oito disse­ram ser contra a candidatura.

Lançado oficialmente candi­dato na véspera da eleição, mas articulando a candidatura desde o ano passado, Renan fez um discurso em plenário no qual ignorou as acusações que pesam so bre ele e disse que ética "é obriga­ção de todos". Depois de eleito, fez um novo discurso, desta vez em defesa das liberdades de ex­pressão e de imprensa. Disse que será contra qualquer iniciativa le­gislativa que busque controlar a mídia. Repetiu a presidente Dilma Rousseff e ressaltou que o único controle possível é o "con­trole remoto". "A imprensa é insubstituível", defendeu. "Ninguém quer uma imprensa que se agacha, como aconteceu na ditadura, que eu e muitos de nós combatemos", acrescentou.

Dilma e Temer. A presidente Dilma telefonou para parabenizar Renan assim que desembarcou de Brasília, no fim da tarde, fregressando de uma viagem a Belém do Pará. O vice-presidente, Michel Temer (PMDB), que fez o papel central de blindagem de Renan, considerou "positivo" o discurso do correligionário. De acordo com Temer, o discurso de Renan mostrava que ele está f"olhando para a frente", revelando que "não guardou mágoas" e que estava preocupado "apenas em superar as divergências".

Silêncio tucano. Um dia depois de ter convencido a bancada tucana a apoiar a candidatura de Taques, o presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) ficou calado e não fez discurso. O mesmo comportamento foi adotado pe­lo novo líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP).

Os senadores peemedebistas Edison Lobão Filho (MA), Sér­gio Souza (PR) e Eduardo Braga (AM) foram os mais enfáticos na defesa de Renan. "Aqui nesta Ca­sa não há nenhum vestal", argu­mentou Lobão Filho, ao bradar que nenhum senador tem autori­dade para "levantar o dedo para o senador Renan". Já o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez uma defesa envergonhada da candidatura de Renan sob o argu­mento de que seguia "as diretri­zes" de seu partido.

Sem mencionar as acusações contra Renan, os apoiadores de Pedro Taques defenderam a elei­ção de um nome que pregasse a independência do Legislativo em relação ao Executivo.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) foi o único a pedir com veemência que Renan desis­tisse da candidatura. "Vamos re­petir o filme?" questionou, ao lembrar a renúncia de 2007.

Ao discursar, Taques disse ter certeza de que seria derrotado, mas provocou os colegas: "Este é o silêncio de quem aceita, não re­siste; é o silêncio dos covardes".