Título: Além de denúncias, favorito para chefiar Câmara enfrenta briga interna do PMDB
Autor: Fabrini, Fábio ; Álvares, Débora
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2013, Nacional, p. A4
Congresso. Henrique Alves deve ser eleito hoje presidente da Casa, mas nas últimas horas teve de administrar tensão por conta da escolha do novo líder de seu partido; Eduardo Cunha e Sandro Mabel, que disputaram a liderança da sigla, cobraram apoio do parlamentar.
Parlamentar mais antigo da Câmara e favorito para presidir a Casa, o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB) enfrenta, nas eleições de hoje, sequelas do racha na escolha do líder de seu próprio partido. Aliados de Eduardo Cunha (RN), que foi o escolhido, e do derrotado Sandro Mabel (GO), admitiam ontem, nos bastidores, que a tensão da disputa interna poderia ter como efeito colateral a migração de votos para adversários de Alves como protesto pela condução do processo.
A tensão na própria bancada é uma das principais ameaças à vitória, em primeiro turno, do peemedebista, que, apesar do histórico de questionamentos éticos e investigações, tem o aval de líderes da maioria dos partidos e da presidente Dilma Rousseff.
A disputa pela liderança do PMDB chegou ao segundo turno e Cunha foi eleito com 46 votos contra 32 dados a Mabel. Após o racha, Alves tentou minimizar o impacto na eleição de hoje para a Presidência da Câmara e pregou que bancada do PMDB vote unida. O temor é que a beligerância interna entre peemedebistas disperse votos e leve a disputa pelo comando da Casa a um segundo turno.
Cunha enfrenta resistências no Planalto. A presidente Dilma Rousseff o vê com desconfiança, sobretudo após apadrinhados dele em Furnas terem sido suspeitos de irregularidades. No Rio, Cunha enfrentou três inquéritos no Tribunal de Contas do Estado (TCE), que investigou supostas irregularidades quando o deputado presidiu a Companhia de Habitação do Estado do Rio de Janeiro (Cehab), entre 1999 e 2000.0 caso foi arquivado.
O deputado é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal que investiga suposto tráfico de influência em favor de um ex-diretor da Refinaria de Manguinhos. Cunha nega qualquer ação ilegal.
Corrida pela presidência. Os dois adversários de Alves à presidência da Câmara - Rose de Freitas (PMDB-ES) e Julio Delgado (PSB-MG) - apostavam na disputa interna do PMDB para desidratar o favoritismo do deputado, de olho no segundo turno. Ambos passaram o dia em conversas com representantes dos demais partidos. Para Rose, a candidatura do colega de partido é "de inteira submissão" ao Planalto.
"Somos base, mas uma coisa é ser base e outra é você se submeter a qualquer pauta, a qualquer política do Executivo", criticou. "Ele foi líder por sete anos e nunca dividiu a relatoria de uma MP (medida provisória). Além disso, está sendo investigado", disse Delgado.
Ao chegar à Câmara ontem, Alves não falou com a imprensa.
Denúncias. Caso seja eleito hoje, a exemplo de Renan Calheiros (PMDB-AL), recém-empossado para dirigir o Senado, Alves assumirá sob questionamentos que podem comprometer o exercício do mandato. Na Câmara desde 1971, ele tenta há anos se livrar de processo no qual é acusado de enriquecimento ilícito, supostamente por manter dinheiro no exterior. A ação corre em sigilo na Justiça Federal em Brasília, que recebeu, do Ministério Público Federal (MPF), pedidos de quebra dos sigilos bancário e fiscal do parlamentar.
A denúncia partiu de depoimento da ex-mulher do deputado Mônica Infante de Azambuja, que, ao pleitear pensão alimentícia maior, disse em 2002 que Alves mantinha US$ 15 milhões não declarados em contas em paraísos fiscais. O caso se arrasta nos tribunais.
Como o Estado revelou em 13 de janeiro, os advogados de Alves conseguiram barrar a análise das quebras de sigilo, ao pedir à Justiça que, antes de dar continuidade à ação, apreciasse se o caso está prescrito e se baseou em provas ilícitas. Há 11 mandatos na Câmara, Alves declarou, para a atual legislatura, patrimônio de R$ 5,5 milhões.