Título: Em desvantagem na balança dos Poderes
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2013, Nacional, p. A6

A eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) e Hen­rique Eduardo Alves (PMDB-RN) para coman­dar Senado e Câmara, respectivamente, deixa o Legislativo em desvantagem política na sempre oscilante balança dos três Poderes. Renan e Hen­rique ocuparão a Presidência das duas Casas fra­gilizados por investigações e denúncias por su­posto envolvimento em irregularidades. Ambos chegam aos principais postos do Congresso criti­cados por setores da opinião pública e trazendo no currículo duas renúncias relevantes.

Em 2007, Renan precisou abrir mão do cargo de presidente do Senado, acusado de permitir que uma empreiteira fizesse pagamentos de des­pesas pessoais suas, como o pagamento de pen­são para uma filha sua fora do casamento. Antes disso, em 2002, Henrique teve que deixar a vaga de candidato à Vice-Presidência da República na chapa encabeçada pelo tucano José Serra, depois de ser acusado de supostamente manter recur­sos não declarados no exterior.

A questão é que no mesmo período em que estarão à frente de Senado e Câmara, poderes Executivo e Legislativo enfrentarão situações bastante diversas. Apesar das dificuldades para fazer a economia crescer, Dilma Rousseff conta com elevada aprovação popular, segundo pesqui­sas que avaliaram seu desempenho.

No Judiciário, a diferença em termos de prestí­gio também é considerável. O ministro Joaquim Barbosa assumiu a presidência do Supremo ex­tremamente fortalecido pelo desempenho co­mo relator no julgamento do processo do mensalão, que condenou políticos importantes como os petistas José Dirceu, João Paulo Cunha, José Genoino, entre outros.

Numa analogia com o futebol, é como se Re­nan e Henrique entrassem na partida pendura­dos com cartão amarelo. Experientes, os dois sa­bem da situação e têm procurado evitar marolas. Evitam entrevistas, justamente para não abordar episódios polêmicos. O plano é deixar o tempo correr para que diminua a atenção sobre suas eleições. Enquanto isso não acontecer, por mais que seus discursos de autonomia preguem o con­trário, as discussões do Congresso continuarão dominadas por agendas definidas pelo Planalto e temperadas pelos entendimentos do Judiciário.