Título: Miséria cadastrada acaba no mês que vem, diz presidente
Autor: Gallo, Fernando ; Bergamasco, Débora
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2013, Nacional, p. A10

A presidente Dilma Rousseff disse ontem em visita ao Para­ná que a previsão do governo é zerar o cadastro de pessoas ins­critas no programa Brasil Sem Miséria no mês que vem. Ela res­saltou, porém, que atender a to­dos os cadastrados não signifi­ca tirar completamente a popu­lação da extrema pobreza.

"Estamos tirando mais de 19 milhões de pessoas da pobreza extrema, mas nossas contas es­tão incompletas. Não podemos ficar satisfeitos em zerar o cadas­tro porque sabemos que há famí­lias que ainda não foram cadas­tradas e muitas delas vivem em assentamentos", afirmou a presi­dente em Arapongas. Ela fez um apelo para que prefeitos, líderes de movimentos sociais e traba­lhadores rurais identifiquem e fa­çam as inscrições do programa.

O Brasil Sem Miséria tem co­mo foco as famílias que vivem em extrema pobreza, com renda per capita mensal de no máximo R$ 70. Segundo cálculos apresen­tados pela presidente, há atual­mente cerca de 2,5 milhões de pessoas nessa situação no Brasil.

Horas antes, em Cascavel, Dilma fez o mesmo apelo aos prefei­tos que a acompanhavam no evento oficial - a tarefa de cadas­trar os pobres é dos municípios.

Contudo, em alguns lugares o número de pessoas que estão nos programas de transferência de renda é muito aquém do total das que poderiam ser incluídas.

Dados. Em novembro do ano passado, em São Paulo, por exem­plo, apenas 44% daquelas cuja renda permitira a inclusão no Bol­sa Família estavam efetivamente inscritos no programa. Em Flo­rianópolis, a taxa era de 61% das famílias, em Goiânia 65% e no Rio de Janeiro era de 74%.

Em todas as outras capitais o benefício do Bolsa Família atingia mais de 88%. Ele chegava a 100% em Teresina, Maceió, Fortaleza, São Luís, Campo Grande, Cuiabá, João Pessoa, Recife, Porto Velho, Boa Vista, Aracaju, Palmas, Natal Manaus e Distrito Federal.

"Precisamos ir atrás dos que não estão cadastrados", pediu Dilma. "Dos que por motivo A, B ou C o município não cadastrou. Isso é crucial, muda o patamar do nosso país", completou.

A presidente sustentou que o Brasil anda na contramão dos países ricos, ao garantir direitos que a crise econômica interna­cional vem tirando de nações economicamente mais desenvol­vidas. " (Tirar as pessoas da misé­ria) faz com que a gente ande de cabeça em pé em todas as reu­niões internacionais, que a gen­te olhe com igualdade para todo mundo", afirmou. "É um mundo em que o contrário está se dan­do. Países que conseguiram che­gar em um patamar de bem estar e hoje veem uma parte da sua po­pulação caminhar celeremente e infelizmente para a perda de di­reitos de emprego e de perspecti­vas", completou a presidente.

Dilma chegou ao assunto da po­breza quando falava a produtores rurais de Cascavel e região sobre a importância da Empresa Brasi­leira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo Dilma, a Embrapa foi criada por brasilei­ros que estudaram em universida­des estrangeiras. Em seguida lem­brou que o Brasil já mandou 100 mil estudantes para fazer o mes­mo. "Pagamos bolsa, estadia, cur­so de inglês, alemão, da língua que for. Ao mesmo tempo em que esse país faz isso, tem que olhar e ver que tem que ter engenheiro, matemático, físico, mas tem que olhar também para a extrema po­breza porque um país não vira uma nação enquanto uma parte do seu povo vive na miséria."